sexta-feira, 14 de junho de 2019

Contra os missionários da destruição


Deltan, o verbo flamejante da Lava Jato, e Sérgio Moro, o pai de todos,
em evento em outubro de 2017. Parceria foi muito além de um seminário

A Lava Jato, como uma marca fantasia, tem de acabar para que o combate à corrupção possa continuar. Não se trata de frase de efeito. É o que evidenciam as conversas muito pouco republicanas dos protagonistas da operação, reveladas pelo site The Intercept Brasil. 

Ou os atores políticos despertam para o que está em curso, ou o preço a pagar será a instabilidade permanente. Não virá o apocalipse —porque nunca vem. Países sempre podem piorar um pouco ou oferecer a seus cidadãos uma vida muito abaixo de suas potencialidades. 

A tarefa de conciliar o combate à corrupção com os valores da democracia é do Congresso Nacional, não de uma associação de fanáticos. É ele que tem de rever, por exemplo, a lei 12.846, que trata dos acordos de leniência e permite que empresas sejam literalmente fulminadas, enredadas por múltiplos órgãos do Estado que exigem a reparação, num calvário que não tem fim. Nove empreiteiras que caíram nas malhas da Lava Jato haviam demitido 331.705 pessoas até o ano passado. 

Cumpre saber quanto estamos dispostos a sacrificar em democracia e em economia para garantir "O Espetáculo da Corrupção", para citar o excelente livro do advogado Walfrido Warde, que tem este subtítulo eloquente: "Como um sistema corrupto e o modo de combatê-lo estão destruindo o país". 

É leitura obrigatória. É dali que extraio os números acima. É o Legislativo que tem de corrigir a estúpida lei 12.850, que trata das delações premiadas e torna o país refém de bandidos. Flagrados, transformam-se, no curso do arranjo das delações, em juízes supremos tanto de seus parceiros de crimes como de seus adversários. E, como se sabe, a frouxidão do texto confere a procuradores e policiais federais o poder de decidir quem vive e quem morre na vida pública. 

Cumpre ao Parlamento votar uma lei que puna efetivamente o abuso de autoridade para que os candidatos a Robespierres de nossas misérias não continuem a provocar estragos sob o pretexto de nos salvar das garras do mal. 

É necessário regulamentar o lobby, a exemplo do que acontece nas boas democracias do mundo, de modo a que a defesa legítima de interesses não seja criminalizada mesmo quando os órgãos de acusação apenas presumem relações viciosas entre políticos e setores da economia. 
(…)

Por Reinaldo Azevedo (íntegra aqui)

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