terça-feira, 11 de junho de 2019

Moro terminou o dia escorado no braço não da lei, mas dos soldados


Augusto Heleno, do GSI: fala desnecessária e fora do tom sobre
vazamentos que envolvem Sérgio Moro. E também precipitada

Curiosamente, ou nem tanto, três generais da reserva que integram o governo resolveram se manifestar sobre o caso Sérgio Moro-Deltan Dallagnol. O mais estridente foi Augusto Heleno, do Gabinete da Segurança Institucional. Falou, a meu ver de forma imprudente, o seguinte: 
"Querem macular a imagem do Dr. Sergio Moro, cujas integridade e devoção à Pátria estão acima de qualquer suspeita. O desespero dos que dominaram o cenário econômico e político do Brasil nas últimas décadas, levou seus integrantes a usar meios ilícitos para tentar provar que a Justiça os puniu injustamente. Vão ser desmascarados mais uma vez. Os diálogos e acusações divulgadas ratificam o trabalho honesto e imparcial dos que têm a lei a seu lado. O julgamento popular dará aos detratores a resposta que merecem. Brasil acima de tudo!!!" 

Está tudo errado na fala do general. Em primeiro lugar, isso não é prosa do chefe de um Gabinete da Segurança Institucional, a menos que ele julgue que esta foi afetada pelas revelações. Não existem pessoas acima de qualquer suspeita, em especial quando os atos revelados as tornam, justamente, suspeitas. Não sei se o ministro leu direito a reportagem do "The Intercept Brasil". Parece-me que não. Entre outras coisas, o então juiz Sérgio Moro indica a Deltan Dallagnol uma pessoa que pode atuar como testemunha contra Lula.

E este é o problema: Heleno resolveu ver a questão apenas pela ótica da política. Não por acaso, termina a sua mensagem com parte do lema do governo Bolsonaro, no que também faz muito mal. Não sei quem são as pessoas "que dominaram o cenário econômico e político do Brasil nas últimas décadas". O PT governou o país por 13 anos e alguns meses. Uma coisa é certa: juízes e procuradores têm de se comportar dentro da lei. A exemplo dos militares. 

Fernando Azevedo e Silva, ministro da Defesa, afirmou por seu turno: "Eu preciso me aprofundar nesse fato, um fato recente, vamos ver o que que aconteceu realmente. Agora, uma coisa eu falo, o ministro Moro tem a total confiança nossa. Total confiança nossa. Ele é um ministro, um homem de muito respeito e do bem". 

Vejam como são as coisas. Eu gosto de linguagem e de palavras. Considerando que o presidente, para todos os efeitos, nada disse, esse "nosso" da fala do general parece falar em nome dos militares, não é mesmo? Tem lá a sua graça! Moro, o homem que expressava o suposto civilismo de alguns valentes que fizeram do combate à corrupção a sua divisa, tem agora de se escorar nos soldados.

Santos Cruz, da Secretaria de Governo, disse que a suposta invasão de hackers "demonstra a ousadia do crime e não pode ser admitido". É… Vá lá. Os três generais devem se lembrar como os vazamentos sistemáticos oriundos da Lava Jato contribuíram para o cenário que aí está, de que eles são protagonistas. 

Hamilton Mourão, o vice, também saiu em socorro de Moro: "Eu vou responder de uma forma muito simples: conversa privada é conversa privada. Descontextualizada traz qualquer número de ilações. Então, o ministro Moro é um cara da mais ilibada confiança do presidente". 

E o vice ainda acrescentou que o ministro "tem um respeito enorme de parte da população" e que os processos da Lava Jato passaram por diferentes instâncias. "Então, eu não vejo nada de mais nisso aí, não"

Compreende-se a apreensão dos militares. Sérgio Moro é ainda um dos pilares da sustentação popular do governo Bolsonaro. Sua eventual saída do governo representaria, aos olhos da população ao menos, uma perda importante de credibilidade. 

Ainda que Lula possa não ser o único beneficiário de eventuais anulações de processo em razão de comportamentos indevidos de procuradores e juiz, é evidente que é a figura-chave dessa conversa, até porque um dos diálogos impróprios entre Moro e Dallagnol trata justamente das provas — ou da falta delas — para condenar o ex-presidente.

Mais do que o próprio Bolsonaro — que mantém uma relação contraditória com Moro porque sabe que este pode vir a ser um adversário no seu próprio campo ideológico —, os militares perceberam que a Lava Jato é, por assim dizer, a crença de que eles são os soldados. 

Se a operação cai no descrédito popular, é certo que o governo Bolsonaro, que está longe de ser um exemplo de eficiência, pode vir a ter problemas adicionais. De todo modo, os ministros não são burros e estão cientes de que não vão conseguir sustentar a coisa no berro. O que se tem aí já é bastante grave. Mas consta ser só o começo.

Por Reinaldo Azevedo

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