Em reunião realizada na tarde desta terça-feira (25) no Palácio dos Bandeirantes, o governador de São Paulo, João Doria, afirmou que "lamenta frustar" o presidente Jair Bolsonaro, mas que planeja manter a Fórmula 1 na capital paulista até 2040. O encontro teve a presença de Chase Carey, chefe da categoria, e também do prefeito de São Paulo, Bruno Covas.
Após Bolsonaro afirmar que há "99% de chance" do GP do Brasil ser realizado no Rio de Janeiro a partir de 2021 (Interlagos tem contrato com a categoria até 2020), Doria fez questão de, em coletiva de imprensa após a reunião com Carey, desmentir o mandatário: "Não há uma decisão. Lamento frustrar o presidente Bolsonaro, mas a decisão não está tomada, ela será tomada, como disse o Carey."
"Não é uma decisão política, emocional ou institucional, e sim de negócios. E com base nisso a F1 decidirá, levando em conta os nossos argumentos, o do presidente Bolsonaro e dos representantes do Rio", seguiu o governador de SP.
Doria foi além: disse, também, que já há um plano para que não só São Paulo renove o contrato com a F1, como amplie essa duração para 20 anos.
"Até 2040. Já montamos um grupo de trabalho que estará reunido com representantes da F1 em SP, sob liderança do Tamas Rohonyi (promotor do GP do Brasil), e, com isso, vamos trabalhar com o tempo necessário para fornecermos informações adequadas para essa decisão seja madura, decisiva e empresarial", seguiu.
O comandante do Liberty Media, grupo que administra a F1, também comentou a situação na coletiva. Em tom bem parecido com o que usou após a reunião no Rio de Janeiro, o chefão do principal campeonato do automobilismo mundial destacou a importância do Brasil para o calendário da categoria, mas falou em analisar todas as alternativas possíveis para a realização da prova. Carey, mais uma vez, não falou se São Paulo ou Rio de Janeiro terão a F1 nos próximos anos.
"O Brasil é um mercado muito importante para nós. Temos muitos fãs e ídolos aqui. A história do Brasil na F1 é das mais únicas e mais importantes. Tivemos muitas corridas em Interlagos por muitos anos e gostamos da parceria que tivemos aqui durante todo esse tempo. Estamos focados no futuro", comentou.
"Sou parte de um grupo que chegou à F1 há dois anos e estamos na batalha para desenvolver o esporte no mundo inteiro, então estamos focados para, de 2021 em diante, trazer espetáculo, emoção, energia para o público. Estamos procurando garantir um evento que possa render grandes corridas, mas também queremos ter um espetáculo que engaje as pessoas em toda a região da cidade sede, parecido com o Super Bowl. Esperamos discutir as oportunidades aqui no Brasil. Discutimos nos últimos dias qual seria a melhor solução tendo em vista o espetáculo e a experiência para os fãs", completou.
Chase Carey desmente Jair Bolsonaro em reunião no Rio
Na última segunda-feira (24), a primeira das duas reuniões das quais Carey participou foi realizada no Rio de Janeiro, com Bolsonaro presente, além do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel. Nela, o diretor da F1 desmentiu o presidente do Brasil durante pronunciamento após o encontro.
Segundos após Bolsonaro afirmar que a categoria se mudará para o Rio de Janeiro, no ainda a ser construído autódromo de Deodoro, a partir de 2021, Carey desmentiu o presidente do país e afirmou que não há acordo algum fechado para que o GP do Brasil mude de palco.
Inicialmente, no último mês de maio, Bolsonaro, Witzel e o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, se juntaram num evento de assinatura do termo de compromisso para que a corrida fosse ao Rio de Janeiro já em 2020. Havia, entretanto, o contrato vigente entre a F1 e Interlagos, que ainda engloba a edição 2020 do GP do Brasil. São Paulo respondeu com negociações para manter a corrida onde está ininterruptamente desde 1990.
De acordo com Bolsonaro, enquanto voltava a anunciar a saída da F1 de São Paulo para um autódromo ainda inexistente, "ninguém está tirando a Fórmula 1 de São Paulo. Ela está permanecendo no Brasil". A declaração assertiva do presidente, porém, não encontrou refúgio na resposta de Carey. O diretor-executivo afirmou ali mesmo que as negociações com São Paulo seguem e que ainda não existe um acordo fechado com o Rio de Janeiro.
A promessa de Deodoro
A promessa original era de que a etapa brasileira mudaria de cidade já no ano que vem, ainda que São Paulo tenha contrato firmado. No termo de compromisso assinado no mês passado, juntos, Bolsonaro, Witzel e Crivella apontaram negociações “bastante avançadas” para tirar a corrida de Interlagos e levar ao autódromo de Deodoro – ainda a ser construído – já em 2020.
"Após o resultado das eleições do ano passado, a direção da Fórmula 1 resolveu manter a possibilidade de termos provas no Brasil", disse Bolsonaro. "Em São Paulo, como tinha participação pública, uma dívida enorme, tornou-se inviável a permanência da F1 lá. O autódromo será construído em seis, sete meses após o início das obras. De modo que, por ocasião da F1 do ano que vem, ela será no Rio", falou o mandatário brasileiro em maio.
Não há, todavia, indícios de dívidas em balanços financeiros da SPTuris, autarquia que administra Interlagos. Em 23 de fevereiro, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, anunciou através do Diário Oficial a abertura de crédito de R$ 2.122.941,44 para reforma no autódromo de Interlagos — os boxes, inclusive, estão sendo reconstruídos.
Ainda naquele 8 de maio, as obras estavam embargadas por conta da falta de um estudo de licenciamento ambiental.
Também na oportunidade, o filho do presidente e senador da República, Flavio Bolsonaro, mostrou desconhecer o modo de trabalho da F1 ao afirmar que o Mundial "tomou a decisão de construir um autódromo no Rio de Janeiro". Seria o primeiro exemplar de autódromo construído pela F1 em quase 70 anos de história.
O autódromo carioca é orçado em pelo menos R$ 700 milhões e, apesar do consórcio Rio Motorsports ter ganhado a licitação para a construção do autódromo - da qual foi o único concorrente interessado -, não houve ainda a especificação de onde vai sair o dinheiro. As autoridades apenas garantem que será um investimento 100% privado. Ao menos por hora, também não há licença ambiental para que qualquer árvore seja derrubada da Floresta do Camboatá.
Câmara de SP manifesta "apoio incondicional" à manutenção da F1
Em nota oficial divulgada na manhã desta terça, a Câmara Municipal de São Paulo deu indícios de que a cidade, caso precise, brigará até o fim pela continuidade do GP do Brasil na capital paulista. Em nota oficial, manifestou "apoio incondicional" à permanência e cutucou Bolsonaro e o Governo do Rio de Janeiro, afirmando que "neste período de crise econômica, não é o momento de gastos altíssimos em áreas que não são prioritárias. Isso inclui a construção de um novo autódromo no Rio". Confira a nota completa:
"A Câmara Municipal de São Paulo manifesta apoio incondicional à permanência do Grande Prêmio de Fórmula 1 em São Paulo. Nesse sentido, aprovou a concessão do autódromo de Interlagos à iniciativa privada, garantindo ainda mais investimentos.
A Fórmula 1 é realizada em Interlagos desde 1972 e representa um fator econômico importante para a cidade de São Paulo e para o Brasil. Neste período de crise econômica, não é o momento de gastos altíssimos em áreas que não são prioritárias. Isso inclui a construção de um novo autódromo no Rio. Portanto, não se trata de uma questão política, mas, sim, econômica.
Interlagos já revelou grandes nomes do automobilismo brasileiro, dentre os quais Ayrton Senna, Nelson Piquet, Rubens Barrichello, Felipe Massa e José Carlos Pace, entre tantos outros, e continuará como sede da Fórmula 1 por muitos anos."
No MSN
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