Lula executa dois movimentos contrastantes. Num, ruge para o mercado, ameaçando levar à vitrine "alguma coisa" parecida com uma paulada nos especuladores que encarecem a cotação do dólar.
Noutro movimento, Lula mia para o baronato parlamentar, despejando sobre o balcão da "emendocracia" cifrões que desafiam a necessidade do governo de disciplinar os seus gastos.
No primeiro semestre deste ano da graça de 2024, o governo já empenhou R$ 33,4 bilhões em emendas penduradas no orçamento federal por deputados e senadores. Isso corresponde a quase 70% do total de emendas previstas para o ano
No mesmo período do ano passado, as ordens de pagamento de emendas somaram quatro vezes menos: R$ 7,53 bilhões. A fatura das emendas quadruplicou graças a uma contingência legal.
A lei eleitoral veda o pagamento de emendas nos três meses que antecedem a eleição municipal. O prazo fatal para as liberações vence no sábado. Até sexta-feira, ainda escorrerão pelo duto das emendas cerca de R$ 7 bilhões.
As emendas são uma prerrogativa dos parlamentares. Liberá-las é uma atribuição incontornável do Poder Executivo. Entretanto, desde o advento do famigerado orçamento secreto, emenda virou um outro nome para maracutaia.
Uma emenda pode enviar kits de robótica superfaturados para precárias escolas alagoanas. Ou asfaltar uma estrada defronte da fazenda de um ministro que continua sentado na Esplanda de Lula a despeito de ter sido indiciado pela Polícia Federal por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Durante a campanha presidencial de 2022, Lula prometeu colocar o trem fantasma das emendas em trilhos republicanos. Sabia que a transparência seria um desafio duro de roer. Mas abdicou da promessa ainda na fase de transição de governo.
Lula simplesmente desistiu de tentar. Daí o contraste. No enfrentamento com o mercado, Lula exibe a valentia retórica de um leão. Obtém um resultado opoto do que desejaria. No relacionamento com o patrimonialismo legislativo, comporta-se como um gatinho manso.
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