terça-feira, 19 de março de 2019

Paulo Guedes discursa em Washington: sua fala desmoraliza chanceler brasileiro e gurus de Bolsonaro, além do próprio Bolsonaro



Você quer uma boa notícia? Se depender do ministro da Economia, Paulo Guedes, o Brasil não vai fazer nada de estúpido nas relações comerciais com a China. Foi o que ele deixou claro, e com correção, a investidores e empresários que ouviram o seu discurso na noite desta segunda na US Chamber of Commerce, a Câmara de Comércio Americana. Para quem entende como são as coisas, o ministro estava tentando compensar o desastre do jantar de domingo à noite na embaixada do Brasil em Washington, quando a China foi demonizada como maior parceria comercial do Brasil — na verdade, é o país que mais compra nossos produtos. É que estavam lá, ladeando o presidente Jair Bolsoanro, Steve Bannon, um delinquente intelectual de alcance internacional — criador do que pretende ser uma organização internacional de extrema-direita, o tal "Movimento" — e Olavo de Carvalho, que vê nos chineses a encarnação do demônio. Infelizmente, ambos têm muita influência no bolsonarismo. E ouviu-se, então, uma borrasca de despropósitos. Nem Guedes conseguiu conter as tolices. 

Nesta segunda, a estrela foi o ministro. E ele ajustou as coisas e botou pra quebrar, em ritmo acelerado, às vezes de "stand up comedy", atuando um tanto acima do tom. Exaltou até os "colhões" do presidente Bolsonaro — empregou a palavra "balls", em inglês — para elogiar a sua coragem de cortar gastos e de fazer reformas. Eu cuidaria melhor do vocabulário se integrante de um governo cujo titular ficou famoso por espalhar um vídeo, como direi?, impróprio. "No tocante" à China, como diria Bolsonaro, Guedes acertou. Mas também cometeu erros de amador. 

Sua fala poderia ser assim sintetizada: "Se vocês, americanos, nos querem menos ligados comercialmente à China, então ponham fim a suas barreiras comerciais e invistam no Brasil. Ou, então, parem de nos patrulhar". Está certo nesse particular. Adepto da ironia e de provocações, Guedes se referiu ao discurso de sujeição do Brasil aos EUA, que marca a fala do chanceler Ernesto Araújo. Afirmou: "Como disse o ministro Ernesto Araújo, nós somos um país do Ocidente, somos uma democracia e sabemos quem nos inspira. Mas os EUA vêm fazendo comércio com a   há décadas; por que nós não podemos fazer?" Foi além: "Sabe quem tem mais investimento direto aqui nos Estados Unidos? Os chineses. Então por que nós não podemos fazer comércio com a China e deixar que eles invistam no Brasil em ferrovias para transportar nossa soja?".

Por Reinaldo Azevedo (íntegra  aqui)

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