A Comissão de Inquérito vem caminhando. Um passo à frente, dois para trás,
mas andando: pediu quebra de sigilo da Construtora Delta em âmbito nacional,
chamou dois governadores citados nos inquéritos da Polícia Federal, devagar vai
esgarçando parcerias e desmontando o roteiro inicial de instrumento de
vingança.
O exame mais detalhado desse saldo positivo, no entanto, ficará para outro
dia, pois não se pode deixar de tratar do dia de ontem que definitivamente não
foi bom para a CPMI devido ao pendor farsesco de determinadas excelências.
O espetáculo de grosseria que o deputado Silvio Costa finalmente protagonizou
depois de muito ensaio desde a instalação da CPMI decorreu de uma primeira
farsa, esta montada pelo senador Demóstenes Torres.
Recorreu ao silêncio na CPMI aludindo, não ao "direito constitucional" de não
produzir provas contra si. Soaria contraditório, pois alega total inocência do
que tange às acusações de envolvimento com a máfia Cachoeira.
Reivindicou a prerrogativa de calar alegando que já havia falado dois dias
antes ao Conselho de Ética. Ofereceu a reprodução daquele depoimento por escrito
a título de "colaboração", como se houvesse equivalência entre as duas
instâncias.
Não há. Uma comissão de inquérito tem poderes que ultrapassam em muito as
prerrogativas de um conselho. O que se diz lá produz provas, gera consequências.
Cumpre lembrar que a denúncia que resultou no processo do mensalão foi feita em
boa parte com base nos trabalhos da CPI dos Correios.
Além disso, no conselho se examina a quebra do decoro parlamentar do senador
Demóstenes Torres ao dizer a seus pares uma coisa e logo depois ser desmentido
pelas gravações de telefonemas feitas pela PF.
Na comissão, o objeto da investigação diz respeito ao Código Penal, às
acusações de envolvimento com crimes. Como, de resto, sabe bem o senador. Com a
manobra, no lugar de se diferenciar, igualou-se à raia miúda que já passou
silente pela CPMI.
De onde o deputado Silvio Costa achou-se no direito de humilhá-lo aos gritos
e em boa hora foi advertido pelo senador Pedro Taques, que passou a ser alvo da
sanha desaforada do deputado.
Aos palavrões, a um só tempo feriu o decoro, fez de Demóstenes uma vítima e
da CPMI palco de um espetáculo burlesco que seria de quinta categoria não fosse
mesmo é de oitava.
Calmante. A declaração do advogado Técio Lins e Silva de que
seu cliente Fernando Cavendish não recorrerá à Constituição para calar se for
chamado à CPMI, pode funcionar como antídoto.
Lins e Silva não disse que Cavendish vai acusar ninguém. Mesmo assim, só a
indicação de que se perguntado responderá, é bem capaz de arrefecer o "ânimo
convocador" de muita gente na comissão.
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