É hora de desenhar.
Invocando uma cláusula do regulamento interno que prevê o afastamento do síndico por mau desempenho, o conselho de condôminos de um prédio decidiu quase por unanimidade demitir o ocupante do cargo e substituí-lo pelo subsíndico. Uns poucos descontentes , que se solidarizaram por algumas horas com o demitido. A imensa maioria dos moradores aprovou a decisão, os demais encararam a mudança com indiferença.
Tudo foi resolvido entre os diretamente interessados no assunto. Nenhuma das normas em vigor foi violada, não se registraram interferências indevidas. Ninguém chamou a polícia, os responsáveis pela segurança do edifício continuaram em seus lugares, nenhuma farda apareceu. O antigo síndico declarou-se conformado com a perda do emprego, a vida retomou seu curso. As coisas já estariam inteiramente normalizadas se os brigões da vizinhança não tivessem decidido intrometer-se na história.
A administradora do arranha-céu ao lado, que não dá um pio sobre as bandalheiras no quintal ou no resto da rua e finge não enxergar os abusos nos cortiços alugados por amigos, acha que nenhum prédio pode resolver problemas em dois dias. A viúva que vive tentando fechar a banca de jornais acha que houve um golpe. O dono da loja de botijões de gás, que vive alterando as regras do contrato para renovar o aluguel em condições vantajosas, acha que o fornecimento deve ser suspenso.
O dono do mafuá que abriga incontáveis traficantes de drogas acha que a solução aprovada pela assembléia do condomínio foi ilegal. O presidente do clube que reúne os habitantes da quadra acha que os moradores do edifício que mudou de síndico devem ser excluídos do quadro de sócios. Já ensaiando para conviver com os muitos filhos que mal conhece, o antigo síndico começa a achar que tem chances de recuperar o emprego.
Como o Paraguai, o único problema que esse prédio tem são os vizinhos.
Por Augusto Nunes
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