Criado para democratizar o processo eleitoral, permitindo a todos os partidos e
candidatos acesso à comunicação de massa, o horário eleitoral obrigatório de
rádio e TV há muito conspira contra a sua inspiração original.
Segundos adicionais na mídia eletrônica valem mais do que qualquer crença, se
é que alguma crença ainda fica de pé em tempos ditados, única e exclusivamente,
pelo pragmatismo.
Luta-se pela vitória a qualquer preço e, em nome dela, abraça-se até o
inimigo.
Na capital paulista, coligação por proximidade ideológica ou mesmo empatia é
exceção. A maioria é balizada apenas pelo vencer, custe o que custar. E não
escapa ninguém.
Na sexta-feira, o PSB formalizou a deputada Luiza Erundina como vice do
candidato do PT, Fernando Haddad, nome inventado por Lula contra Marta Suplicy e
a lógica. A união com os socialistas seria natural não fosse o alto custo. Para
o PT - que perdeu o apoio do PSB em Recife e em Fortaleza -, e para a
escolhida.
O PSB nunca ligou muito para Erundina. A guerreira que nas prévias do PT de
1988 derrotou Lula, José Dirceu e José Genoíno, patrocinadores de Plínio Arruda
Sampaio, dividirá o palanque com o arqui-inimigo Paulo Maluf, com quem travou
disputas duras.
Na época, Erundina venceu Maluf e chegou à Prefeitura. Oito anos depois seria
massacrada pelo desconhecido Celso Pitta, afilhado de seu rival.
Já no PSB, depois de expurgada do PT pelo “delito” de ter aderido ao governo
Itamar Franco, Erundina enfrentou Marta. Derrotada já primeiro turno, preferiu a
neutralidade no segundo, contrariando as diretrizes de seu partido, que decidira
apoiar Marta.
Agora, Erundina terá de dar as mãos a desafetos, negar princípios, trair a
sua história.
Gabriel Chalita (PMDB, ex-PSDB, ex-PSB) atira para todos os lados. Acena dar
a vice para o pagodeiro Netinho de Paula ou para o economista Delfim Netto. A
escolha, por mais absurdo que soe, está entre o PC do B e um ex-ministro da
ditadura.
O PSDB queria e perdeu para o PT o PP de Paulo Maluf.
Na verdade, mais do que apoios externos, os tucanos deveriam cuidar de seu
próprio ninho, despedaçando-se de novo em brigas fraticidas, agora em torno da
coligação para a vereança.
Mas vangloriam-se de ter atraído o PR do ex-ministro dos Transportes Alfredo
Nascimento, enrolado até o pescoço em denúncias de superfaturamento de obras.
"Estamos juntando esforços para competir”, explicou o candidato José Serra, de
olho no 1’30’’ da legenda cooptada.
Esse vale tudo pode até garantir maior exposição no rádio e na TV, mas não
enobrece candidatura alguma. E presta um enorme desserviço ao eleitor e ao país.
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