Se Paulo Maluf fosse de outra terra, já estaria há tempo na cadeia, ou teria
sido trucidado pela turba enfurecida, ou teria sido pendurado de cabeça para
baixo em uma bomba de gasolina. Ou teria sofrido, na melhor das hipóteses para
ele, o ostracismo político. Paulo Maluf é, porém, brasileiro. E de cadeia para
ricos e de turba enfurecida, nem sombra.
O Brasil é bastante peculiar, como alguns sabem, outros fingem não saber e
outros mais simplesmente ignoram porque vivem no Limbo. A sociedade nativa não
prima pelo caráter e não cultiva a memória. Refiro-me aos brasileiros que
poderiam e deveriam ter a consciência da cidadania. O Brasil é o país onde uma
Lei da Anistia imposta manu militari pela ditadura continua em vigor, embora
acreditemos usufruir de uma democracia plena.
É apenas um exemplo do nosso atraso político, cívico, cultural, moral. O
Brasil é o país onde um oligarca como José Sarney, feudatário do estado mais
infeliz da Federação, pode tornar-se presidente da República. E é o país onde,
diante da indiferença geral, 50 mil conterrâneos são assassinados anualmente e
64% da população não conta com saneamento básico. E é o país onde a casa-grande
e a senzala ainda estão de pé e, embora dono do sexto PIB do mundo, ombreia-se
com as mais miseráveis nações africanas em matéria de péssima distribuição de
renda.
O Brasil é também o país onde pululam os políticos corruptos, prontos a
entender que o poder lhes entrega o bem público qual fosse privado, e onde os
partidos nunca deixaram de ser clubes recreativos de grupelhos de senhores
dispostos a funcionar como bandeirolas.
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