Um confronto entre policiais e trabalhadores sem-terra deixou ontem pelo menos 17 mortos e 80 feridos no Paraguai. Segundo o Ministério do Interior, 321 homens da polícia cumpriam um mandado de reintegração de posse quando foram emboscados por cerca de 150 camponeses armados e reagiram. O presidente Fernando Lugo enviou o Exército ao Departamento de Canindeyú, a 270 quilômetros do Brasil, para resolver a disputa.
Dos mortos, sete são policiais e dez, camponeses. O conflito durou cerca de oito horas e ocorreu em uma propriedade de 2 mil hectares que pertence ao empresário e ex-senador do Partido Colorado Blas Riquelme, em Colônia Ybyrá Pytá, a 380 km de Assunção. Após a chegada do Exército, os sem-terra foram dispersados.
À noite, Lugo destituiu o ministro do Interior, Carlos Filizzola, e o comandante de Polícia, Paulino Rojas. O próprio Filizzola anunciou à imprensa sua destituição e a Câmara de Deputados, em sessão extraordinária, preparava-se para tramitar um julgamento político contra o ministro por mau desempenho de funções.
À rádio 780 AM, um dos policiais que participou do confronto e preferiu não se identificar disse que a maioria dos tiros acertou o pescoço e a cabeça dos agentes. Entre os mortos estão o comandante e o subcomandante do Grupo Especial de Operações (GEO) da Polícia Nacional, Erven Lovera e José Sánchez. O líder sem-terra Avelino Espínola também foi morto.
Sob a alegação de razões de segurança, jornalistas foram impedidos de acompanhar a ação e tiveram de ficar a alguns quilômetros da área onde ocorreu o confronto. Logo após o ataque, cerca de 500 policiais cercaram a área e um helicóptero ajudou a resgatar os feridos.
A reserva tinha sido invadida havia cerca de dois anos e a tensão vinha crescendo nas últimas semanas, após a Justiça ter emitido uma decisão favorável aos proprietários do terreno.
Segundo Filizzola, a polícia reagiu após o ataque dos agricultores que estariam armados com fuzis e pistolas. “Eles dispararam e a polícia teve de responder”, disse o ministro. “Atuamos com base em uma ordem judicial e conforme manda a lei.”
Por meio de comunicado, Lugo condenou a violência e declarou apoio absoluto às forças de segurança. “Ordenei às Forças Armadas que apoiem essa operação”, afirmou. “Todas as áreas do governo estão atuando para devolver a calma à região.”
Lugo se reuniu ao longo do dia com o comando das Forças Armadas e ministros para discutir a crise. O Senado discute a implementação de um estado de exceção em Canindeyú.
EPP
O governo, por enquanto, descarta a participação do Exército do Povo Paraguaio, (EPP), grupo armado que atua na região e ataca alvos policiais. “Até o momento, não temos informações sobre a participação do EPP”, declarou Filizzola.
De acordo com o chefe de investigações da Polícia de Canindeyú, Walter Gómez, os camponeses sabiam manejar bem o armamento que carregavam e atiravam para matar. Apesar de o governo não ver indícios da participação do EPP no confronto, a promotora Ninfa Aguilar disse que o os sem-terra usaram táticas comuns às do grupo.
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