terça-feira, 5 de março de 2024

Boletim do golpe: morte e ressurreição de Alexandre de Moraes



Considere que o líder da conspiração para impedir a posse de Lula, de pouca experiência militar, uma vez que sua carreira foi interrompida por má conduta, não é exemplo de uma inteligência notável, haja visto a original ideia de gravar a reunião ministerial de planejamento do golpe, mas não só.

Considere que militares e civis que cercaram o líder – à exceção de Paulo Guedes, ministro da Economia, que se não apoiou o golpe, também não se opôs, calando-se – nunca se destacaram pelo brilhantismo em suas respectivas áreas de atuação; foi a pior equipe de governo jamais montada.

Considere, por fim, que as maiores potências do mundo avisaram que seriam contra qualquer tentativa de abolição da democracia no Brasil e que sanções seriam aplicadas caso isso acontecesse; diga-me: como poderia ter dado certo o golpe (ou golpes) dos sonhos de Bolsonaro?

Porque o Cavalão, apelido dele à época em que serviu ao Exército, sonhava em dar um golpe há décadas e começou a criar as condições para fazê-lo tão logo assumiu o cargo. Os generais sabiam, mas fingiam que não. Por duas vezes antes das eleições de 2022, o golpe esteve na mesa.

Passada a eleição, voltou à mesa no início de novembro, ali se manteve até o fim de dezembro, e segundo o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, por pouco não foi dado. Faltou apoio militar. E a parte dos militares, faltou empenho para abortar o golpe de 8 de janeiro.

Quando imaginamos saber quase tudo sobre a trama golpista investigada pela Polícia Federal, vazam novos detalhes ou surgem fatos novos que deveriam nos obrigar a baixar a crista. Pesquisa, qualquer uma e sobre qualquer assunto, é um retrato do momento – assim como nossos relatos.

No início deste ano, o ministro Alexandre de Moraes contou uma história que soou inverídica aos ouvidos dos seus críticos e, por isso, foi alvo de intensa pancadaria. Moraes disse que existiram três planos para puni-lo se o 8 de Janeiro fosse um sucesso:

“O primeiro previa que as Forças Especiais do Exército me prenderiam em um domingo e me levariam para Goiânia. No segundo, se livrariam do corpo no meio do caminho para Goiânia. No terceiro, eu seria preso e enforcado na Praça dos Três Poderes”.

Sabe-se agora que o segundo plano era o mais plausível: a prisão do ministro por soldados do Comando de Operações Especiais, unidade do Exército sediada em Goiânia; sua execução e a desova do corpo a meio do caminho de Goiânia, em local onde não seria encontrado.

Àquela altura, o tenente-coronel Mauro Cid estaria no comando das tropas de Operações Especiais. A versão oficial a ser oferecida ao distinto público era a de que Moraes fugira para o exterior. Acreditasse quem quisesse. O Brasil já seria uma ditadura, e ditadura dispensa explicações.

Tempos depois, por artes da Inteligência Artificial, aparecia uma foto de Moraes em Paris, saindo furtivamente de um lugar público, talvez um restaurante. Parece inacreditável? O golpe para anular o resultado das eleições de 2022 e o do 8 de Janeiro também pareciam.

Como difícil de acreditar é a desculpa dada pelo ex-comandante do Exército general Freire Gomes para o fato de não ter denunciado Bolsonaro à Justiça ao ser convidado a participar do golpe. A mãe do general estava doente; ele temia ser sucedido no comando do Exército por um golpista.

Então achou melhor ficar quieto e atuar junto aos colegas para que não aderissem ao golpe – nem ao de dezembro, nem ao de janeiro, batizado de “A Festa da Selma”. Freire Gomes não esvaziou o acampamento dos golpistas nas vizinhanças do QG do Exército porque Bolsonaro não deixou, é o que ele afirma.

Por que antes assinou uma nota em defesa do direito dos golpistas de se manifestarem? Ora, porque o general Paulo Sérgio, ministro da Defesa, mandou. A Polícia Federal deve saber por que Freire Gomes assinou a nota e ficou só olhando no que tudo iria dar.

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