sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Toffoli deveria suspender o 7 a 1



A ex-Odebrecht, hoje rebatizada de Novonor, pediu e obteve do ministro do Supremo Dias Toffoli liminar que suspende o pagamento à União da multa referente ao acordo de leniência firmado pela empresa no âmbito da falecida Operação Lava Jato. Coisa de R$ 6,7 bilhões. Que seriam pagos ao longo de duas décadas.

Com sua decisão, Toffoli desmoralizou o único empreendimento que funcionou com perfeição no Brasil das últimas décadas: o Setor de Operações Estruturadas, nome que a antiga Odebrecht dava em seu organograma ao departamento encarregado de comprar políticos.

Digam o que disserem da ex-Odebrecht, não se pode deixar de admirar sua organização. No acordo de leniência, a empresa entregou provas de corrupção em 49 contratos. Tudo corroborado pelas delações de sete dezenas de executivos e devidamente registrado nos arquivos do departamento de propinas.

Ao colocar em dúvida a voluntariedade das confissões, Toffoli construiu uma nova versão para a máxima de Marx segundo a qual a história só se repete como farsa. Nos despachos de Toffoli, a história não se repete, se corrige. Fatos? Que fatos? Corrupção? Que corrupção?

A borracha de Toffoli resolve tudo. O ministro já havia anulado todas as provas obtidas por meio do acordo de leniência da ex-Odebrecht. Considerou-as "imprestáveis". A suspensão do pagamento da multa completa o serviço. Fizera o mesmo pela J&F, suspendendo multa de R$ 10,3 bilhões.

A fórmula adotada por Toffoli para suspender o passado deveria ser disseminada por todos os setores da vida nacional. Não faz sentido, por exemplo, que o brasileiro continue submetido à memória angustiante dos 7 a 1 na Copa de 2014.

Com uma liminar redentora, Toffoli poderia enviar os alemães para casa humilhados, sem a taça. Não precisaria nem atender ao pedido da CBF para declarar o Brasil ganhador da Copa. Bastaria suspender liminarmente as dores do 7 a 1. Se a corrupção confessada não existe, tudo é permitido.

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