sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Condenado a 8 anos de cadeia, Collor dá as caras no Planalto



Deus criou o céu e a Terra, o dia e a noite. E deu nome aos bichos, às plantas e às coisas. Era preciso definir as perplexidades e as situações inusitadas. Sentindo-se despreparado para a tarefa, Deus criou Fernando Collor.

Com uma pena de oito anos e dez meses de cana a pesar-lhe sobre os ombros, Collor fez uma aparição no Planalto. Surpresa! Foi à posse do novo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski. Pasmo!

Acomodou-se na primeira fileira, em assento destinado a ex-presidentes. Assombro! Estava ao lado de José Sarney, a quem já chamou de ladrão. Estupefação! A uma cadeira de distância de Alexandre de Moraes. Espanto!

Todos os oradores ignoraram Collor ao desfiar os nomes da nominata. Lula e Lewandowski mencionaram Sarney e Moraes, fingindo não ver o personagem que se imiscuía entre eles.

Deve-se a presença do futuro presidiário nos salões do Planalto à negligência do Supremo. Condenado em maio do ano passado, Collor esperou pela publicação do acórdão para recorrer. A peça só foi publicada em setembro.

A defesa protocolou um recurso chamado tecnicamente de embargo declaratório. Não se presta a rediscutir o mérito do processo. Serve apenas para que o réu reivindique o esclarecimento de eventual contradição ou omissão no veredicto.

Ouvida, a Procuradoria-Geral da República manifestou-se pela improcedência das reclamações. Sustentou que Collor tenta "reabrir a discussão da causa, promover rediscussão de premissas fáticas e provas, além de atacar, por meio de via indevida, os fundamentos do acórdão condenatório".

O Supremo já deveria ter indeferido no recurso, determinando a execução da pena, em regime inicialmente fechado. Numa evidência de que o crime é perto, mas a Justiça mora muito longe, a Corte espera, espera, espera, espera...

Ironicamente, Collor foi condenado por desviar cerca de R$ 20 milhões dos cofres da BR Distribuidora, antiga subsidiária da Petrobras. Enfiou seus apadrinhados na companhia em administração anterior de Lula.

É como se Collor desejasse reforçar, com sua presença, a crença segundo a qual nada se cria, nada se transforma. Na política, tudo se corrompe. Deus, como se sabe, está em toda parte. Mas deixou de ser full time desde que criou Collor.

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