quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

No setor de inteligência, o Brasil voltou... aos tempos da ditadura



Com as entranhas expostas num inquérito sobre espionagem ilegal, a Abin recuou a um ponto abaixo da estaca zero durante a gestão Bolsonaro. O retrocesso sobreviveu à transição de governo. Lula se vangloria de ter reconstruído a administração pública no primeiro ano do terceiro mandato. No sistema de inteligência, coordenado pela Abin, o cenário ainda é de terra arrasada. Nessa área, o Brasil voltou... aos tempos da ditadura.

Com atraso, Lula exonerou o número 2 da Abin, Alessandro Moretti, e outros quatro diretores. Numa evidência de que o governo dormiu no ponto durante o primeiro ano, encenou-se uma tardia dança de cadeiras. Lula nomeou sete novos diretores. Manteve no cargo, porém, o diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa. Falta explicar o que muda na metodologia de trabalho.

Por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, a Abin já havia afastado no ano passado cinco servidores. Entre eles o número 3 de Corrêa, Paulo Maurício Fortunato. A violação de privacidade executada sob Bolsonaro revelou que a perversão dos serviços de inteligência do governo resiste às tentativas de modernização iniciadas há quase três décadas, sob Fernando Henrique Cardoso.

Na gestão FHC, espiões do velho SNI, treinados no vale-tudo da ditadura, lutavam para prevalecer sobre analistas recrutados por concurso público. A turma do paletó achava que o grupo da farda levava muito "lixo" aos arquivos da Abin. Havia mais futrica sobre hipotéticos adversários do que dados capazes de orientar decisões estratégicas do presidente da República.

Hoje, graças a Bolsonaro, assiste-se à ressurreição do mesmo debate no alvorecer do terceiro mandato de Lula. Está entendido que convém ao Estado aprofundar a profissionalização de um sistema de informação que negligenciou até a movimentação dos golpistas de 8 de janeiro.

Desde o quebra-quebra das sedes dos três Poderes, a remoção do entulho funcional bolsonarista já produziu mais de uma centena de exonerações no Gabinete de Segurança Institucional e na Abin. Falta explicar o que será colocado no lugar.

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