Quem, de fato inocente dos crimes que lhe imputam, concorda em ser guilhotinado sem se revoltar? Donald Trump, mais do que apenas implicado em vários crimes, mobiliza seus seguidores, desafia a justiça a provar que é culpado e promete derrotar todos os que disputarem com ele a presidência do seu país em 2024.
Bolsonaro não passa de um falastrão como sempre se soube, e ainda por cima frouxo. Defende que as pessoas se armem para enfrentar quem as ameaça, mas ele, uma vez assaltado no Rio, entregou ao bandido tudo o que carregava, inclusive um revólver. A polícia, dias depois, matou o assaltante.
No dia 7 de setembro de 2021, do alto de um palanque na Avenida Paulista, no centro de São Paulo, Bolsonaro chamou de canalha o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, e disse que não respeitaria mais suas ordens. Menos de 48 horas depois, borrando-se nas calças, pediu desculpas a Moraes.
Com medo de que o filho Carlos fosse preso, tentou abrigá-lo no Palácio da Alvorada. Michelle, sua mulher, bateu o pé e Carlos foi obrigado a bater em retirada. Michelle detesta Carlos, e ele a ela. Bolsonaro não manda sequer no seu cercadinho doméstico. Manda só nos filhos, criados à sua imagem e semelhança.
Quem quer pegar galinha não diz “xô galinha”. Bolsonaro quis dar um golpe entre novembro e dezembro do ano passado. Mas esperava a adesão total das Forças Armadas. Como a adesão foi parcial, fugiu para Miami. E, de lá, protegido e bem alimentado, assistiu pela televisão a tentativa frustrada do golpe de 8/1.
Uma parte dos aliados de fé de Bolsonaro acha que ele faz muito bem em permanecer calado para não se atritar ainda mais com a justiça; outra parte, a dos aliados por conveniência, também, porque pretende usar seu capital eleitoral em benefício próprio. Os bolsonaristas de raiz, que o endeusavam, estão irritados.
Cadê o homem viril que se dizia dono da caneta mais carregada de tinta da República? É verdade que perdeu a caneta, mas deveria ter conservado a virilidade. Cadê o homem que se referia ao Exército como “meu Exército”? Cadê o homem que cercado de seguranças torceu o braço de um desafeto para tomar-lhe o celular?
Seus direitos políticos serão cassados pelo Tribunal Superior Eleitoral sem que ele emita um gemido. O julgamento, que começará nesta quinta-feira (22), se não for interrompido por um pedido de vista, deverá terminar na próxima semana. A partir de então, qualquer juiz da primeira instância poderá prendê-lo.
Se isso ocorrer, ele será solto em pouco tempo. Mas, e a humilhação de ser preso e fichado? E os mais de 20 processos a que responde, um deles por ameaçar de estrupo uma deputada do PT? Fragilizado, como imagina ainda dispor de força política para salvar seus filhos de complicações com a justiça?
Bolsonaro merece a agonia que vive. Ela não é nada se comparada com o mal que ele fez ao país nos últimos quatro anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário