sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Ministro de Bolsonaro foge para o Piauí, mas "Lula no 1º turno" o persegue



É...

Se até o maior hortelão da República resolveu dar um tempo, a coisa não deve andar fácil lá pelas bandas do Palácio do Planalto. A nove dias da eleição, Ciro Nogueira, chefe da Casa Civil, cansou de anunciar que Jair Bolsonaro "passará Lula nas pesquisas na semana que vem" e decidiu tirar uns dias de folga para se dedicar à campanha eleitoral do Piauí...

Depois do Datafolha devastador que veio a público ontem à noite, é preciso ver se vai querer voltar ao cargo. Bem, ele sempre poderá dizer que orientou Bolsonaro a fazer uma coisa e que este fez o contrário... Será? O ministro da Casa Civil se dedicou, também ele, a pregações típicas da extrema direita. Volto ao Datafolha já, já. Mais um pouco de Nogueira.

Aquele que se apresentou, no início oficial da corrida, como o grande estrategista de Jair Bolsonaro está pegando o seu banquinho e saindo de mansinho. Sua estratégia falhou miseravelmente. Foi de sua cabeça traquinas, em associação com a de Arthur Lira (AL), presidente da Câmara — dois capas-pretas do PP —, que saíram coisas como a PEC dos combustíveis e a dos benefícios sociais. Ambas ilegais. Mas quem haveria de se opor?

Era tal a certeza de que os pobres correriam para cair aos pés do "Mito" que Nogueira começou a contar os dias para a virada. Colunistas variados iam adiando a previsão. Não só ele. Afoito, certo "pesquisismo" — que é a pesquisa pilantra que padece do vício da sujeição a quem paga — resolveu antecipar a suposta migração do voto dos pobres, numa modalidade nova de levantamento que rima "base amostral" com "bola de cristal"...

O ministro da Casa Civil parece ter (re)descoberto que Bolsonaro é uma mala muito difícil de carregar. Anunciou que vai se dedicar ao esforço para eleger Silvio Mendes (UB) governador do Piauí. A vice da chapa é Iracema Portella (PP), ex-mulher de Nogueira. No Estado, o candidato do PT é Rafael Fontelles, que está em segundo lugar.

Notem: nem Ciro nem seus aliados tocam no nome de Bolsonaro. O ministro até ameaçou recorrer à Justiça para que, no Estado, seu partido e seu candidato não fossem associados a Bolsonaro pelos adversários. No Piauí, se o "Mito" cruzar com Nogueira na rua, este vira a cara... Oficialmente, disse que vai cuidar da campanha do Presidente no Nordeste. É mesmo? Na região (27% do eleitorado), Lula bate seu principal oponente por 62% a 24%. Num eventual segundo turno, por 68% a 27%. Coragem, hortelão!

LULA NO PRIMEIRO TURNO?
Os números do Datafolha que estimulam Nogueira a ficar no seu torrão são, com efeito, eloquentes. Foram entrevistadas 6.754 pessoas entre terça e quinta em 353 cidades, com margem de erro de dois pontos percentuais. Em relação à semana passada, Lula oscilou de 45% para 47%; Bolsonaro manteve seus 33%; Ciro Gomes (PDT) variou negativamente de 8% para 7%; Simone Tebet (MDB) conservou seus 5%. E Soraya Tronicke (UB) foi de 2% para 1%. Brancos, nulos e nenhum somam 4%, e 2% disseram não saber.

Na semana passada, o ex-presidente tinha 48% dos votos válidos. Estava na margem de erro e tinha chance de vencer no primeiro turno, mas a possibilidade era bastante remota. Esse índice subiu para 50%, e a vitória ainda na primeira etapa se tornou mais plausível. Na votação espontânea, não houve alteração: 42% a 31% — muito próxima da estimulada, o que evidencia decisão do voto. Não houve alteração também no segundo turno: o placar segue 54% a 38% para Lula, com 7% de brancos/nulos/nenhum e 2% que dizem não saber.

AS FRAGILIDADES
Bolsonaro tem de torcer desesperadamente para Lula não vencer no primeiro turno, ganhando mais 27 dias para tentar vencer alguns paredões que se levantaram contra a sua candidatura.

Rejeição
Há uma unanimidade entre os especialistas: se a rejeição a seu nome não cair, nada feito. E ela segue muito alta: 52% dizem não votar nele de jeito nenhum; a de Lula, é bem menor: 39%. Há uma semana, estava em 53% a 38%.

Pobres
A decepção maior de Nogueira, Lira e, claro!, Bolsonaro se dá com o eleitorado de baixa renda. Os pobres não correram para beijar a mão de nhonhô para agradecer os R$ 200 suplementares do Auxílio Brasil: entre os que recebem até dois salários mínimos (51% da amostra), a vantagem de Lula aumentou: ele passou de 52% para 57%. Bolsonaro caiu: de 27% para 24%. Esse é, sem dúvida, o dado mais surpreendente para a turma. Os valentes estavam certos de que a PEC dos benefícios compraria pobre às baciadas.

Mulheres
A situação de Bolsonaro junto às mulheres -- 53% do eleitorado -- era ruim e piorou um pouco: o petista cresceu de 46% para 49%, e ele permaneceu estacionado nos 29%. Para registro: entre os homens, Lula lidera por 44% a 38%.

Nordeste
No Nordeste, a diferença em favor de Lula segue brutal: ele avançou de 59% para 62%, e o atual presidente, de 22% para 24%. Vale dizer: o petista abriu uma vantagem de espantosos 38 pontos na região que concentra 27% do eleitorado. Bolsonaro melhorou um tantinho no Sudeste, com 43% dos votantes: oscilou de 34% para 36%, e o petista, que segue na frente, de 43% para 41%.

ATÉ AGORA...
Já afirmei isso em todo canto e nesta coluna algumas vezes: não dá para classificar de "inúteis" as ilegalidades cometidas por Bolsonaro para tentar virar o jogo eleitoral. Como ele estaria hoje sem elas? Não há meios para saber. A situação do presidente melhorou um pouco, por exemplo, entre os que recebem de mais de dois até cinco mínimos (34% do total): cresceu de 39% para 43%, e Lula caiu de 40% para 36%. O atual mandatário também ganhou alguns pontos junto às minorais que recebem mais de cinco até dez e mais de dez.

O correto é dizer que as medidas não têm sido suficientes, como esperava o governo, para virar o jogo eleitoral. E isso, de fato, deve ser uma decepção e tanto para Bolsonaro. Na quarta, em entrevista à Rede Vida, ele sugeriu que os programas de renda tornam os pobres indolentes... O sujeito não tem cura.

Lula cresceu ainda num grupo que pode ter poder mobilizador nas redes: foi de 50% para 54% entre os jovens de 16 a 18 anos, e Bolsonaro murchou de 28% para 24%. Escrevi aqui na terça um texto analisando cinco pesquisas e apontando que, a despeito das divergências de números, todas mostravam um possível crescimento de Lula e uma possível estagnação, ou até encolhimento, de Bolsonaro. Esse Datafolha traz elementos que corroboram aquela percepção.

VOTO ÚTIL
Ciro encolheu um ponto percentual. Ficou com 7%, que é o que lhe conferem quase todos os institutos, variando um ponto para lá ou para cá. Está abaixo do que conquistou em outras jornadas. Seu eleitorado sempre foi maior. Parte do que lhe estaria reservado, tudo indica, já migrou para Lula, razão por que não cresce.

Não dá para saber se mais gente ainda vai fazer esse caminho para garantir a derrota do candidato fascistoide no primeiro turno. Se depender do próprio Ciro, não vai acontecer. Até porque, na sua luta contra o voto útil, inventou um tal "fascismo de esquerda" e acabou fazendo uma aliança objetiva com Jair Bolsonaro, como prova o Twitter. Hoje, o que mais se vê é a extrema direita retuitando Ciro Gomes.

Já expliquei aqui que, para o projeto "Ciro 2026", interessa mais a vitória de Bolsonaro do que a de Lula. Na hipótese, claro!, de haver um 2026.

Nenhum comentário: