sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Debate final foi uma briga de boteco, desfecho do primeiro continua incerto



Estava previsto que William Bonner mediaria um debate presidencial. Comandou uma briga de botequim. Não um botequim qualquer, mas um boteco de quinta categoria. Com uma diferença. Nas mesas de um bar convencional, os bêbados pagam do próprio bolso a bebida que entorta a língua. Na TV Globo, apresentaram-se presidenciáveis 100% financiados pelo fundo eleitoral. Afora escassas exceções, não entregaram boas frases, insultos mais elaborados, ironias finas... Nada que compensasse o custo. Não se viu uma bala de prata capaz de virar votos, apenas garrafadas.

O grande vencedor do debate foi o telespectador que dormiu mais cedo. Entre os candidatos, havia duas disputas em cena. Lula saiu-se menos pior do que Bolsonaro. Venceu por pontos, não por nocaute verbal. Escorregou na maionese ao trocar insultos com o autoproclamado Padre Kelmon, um asterisco nas pesquisas. Terá de contar com muita boa vontade dos indecisos para obter o "tiquinho de voto" que lhe falta para encerrar o jogo neste domingo. Simone Tebet venceu Ciro Gomes na disputa particular que trava com ele pela terceira colocação na corrida presidencial. A senadora injetou interesse público na confusão. Ciro exagerou nos números e na empáfia professoral.

Já no primeiro bloco, Bolsonaro confrontou Lula como se esgrimisse contra ele garrafas de cerveja que acabara de quebrar na quina de uma mesa de ferro metafórica do boteco global. Foi do petrolão ao assassinato de Celso Daniel. Ironicamente, esquivou-se de Lula quando teve a oportunidade de escolher a quem perguntar. Confrontou-se com o oponente por meio de enfadonhos direitos de resposta concedidos a ambos. A baixaria foi reprovada por grupos de eleitores que acompanhavam o debate sob monitoramento das campanhas. Bolsonaro foi aconselhado a moderar o tom. Era tarde. A cerveja já estava derramada.

O eleitor que procurou no debate razões para trocar Ciro ou Simone por Lula talvez prefira ajudar na produção de um segundo turno. Um indeciso que se manteve no ar depois de Pantanal para dar uma nova chance ao poder de sedução de Bolsonaro pode ter dificuldades para distinguir quem é quem nos trechos em que o capitão da direita e Lula, o coronel da esquerda, acusaram-se mutuamente de ladrões. Nesse ponto, o debate teve um efeito muito parecido com o de uma briga entre gambás. Mesmo quem se considera vitorioso sai da confusão cheirando mal.

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