sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Renan Calheiros insulta Marco Aurélio no Twitter



Renan Calheiros endereçou no Twitter insultos ao ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo. Inconformado com a decisão do magistrado de impor o voto aberto na eleição para a presidência do Senado, o cacique do MDB questionou-lhe a inteligência. Abstendo-se de citar o nome do seu alvo, Renan chegou mesmo a associar o ministro da Suprema Corte às "antas". 

"Não podemos deixar de defender a separação dos Poderes", escreveu o senador. "Se a democracia ficar exposta a pedrada de doido e a coice de burro, será mais complicado defendê-la. Todo dia tem que matar um leão. Mas o difícil é enfrentar as antas." 

Deve-se a decisão de Marco Aurélio a um mandado de segurança impetrado no Supremo pelo senador Lasier Martins (PSD-RS). Na última quarta-feira, horas depois da divulgação do despacho do ministro, Renan queixara-se no plenário do Senado: "O voto secreto é princípio de eleição. Não há nenhuma eleição no mundo que não seja por voto secreto. O regimento desta Casa diz isso." 

Renan realçara que o próprio regimento do Supremo Tribunal Federal prevê votação secreta na escolha do presidente da Corte. Irônico, ele dera um conselho ao correligionário Eunício Oliveira (MDB-CE), que preside o Senado e o Congresso: 

"Se o Supremo entender que não precisa cassar a decisão do ministro Marco Aurélio, é muito melhor, senhor presidente, o senhor entregar a chave do Congresso Nacional ao ministro Marco Aurélio." Curiosamente, há um quê de Gilmar Mendes na manifestação ofensiva de Renan. 

Amigos, Gilmar e Renan têm em comum o desapreço por Marco Aurélio. No ano passado, o então procurador-geral da República Rodrigo Janot pediu formalmente no Supremo que Gilmar fosse impedido de julgar casos envolvendo o empresário Eike Batista. Na epígrafe do documento que redigiu para rebater os argumentos de Janot, Gilmar escreveu o mesmo provérbio português usado por Renan contra Marco Aurélio: "Ninguém se livra de pedrada de doido nem de coice de burro". 

Na hipótese mais benigna, Renan apenas inspirou-se na peça redigida por Gilmar. Na hipótese mais maligna, as ofensas do senador ecoam a divisão interna que anda corroendo a supremacia da Supremo Corte. 

A melhor forma de guerrear contra uma decisão judicial é a apresentação de um recurso próprio. Algo que, no caso do voto aberto, Eunício Oliveira já providenciou. O problema é que a perspectiva de uma eleição com voto aberto no Senado deixa Renan fora de si. O que o leva a expor na vitrine das redes sociais o que tem por dentro. 

O senso comum ensina que não é exemplo de inteligência um personagens que, tendo telhado de vidro, sai atirando pedras como um doido. Protagonista de mais de uma dezena de processos no Supremo, Renan não tem apenas o telhado de vidro, mas o paletó, a gravata, a camisa, o calcanhar… Tudo no senador parece ser de vidro. 

De resto, o Brasil seria um país extraordinário se o mais difícil desafio imposto ao sistema democrático fosse "enfrentar as antas". A faxina iniciada pela Lava Jato revelou que a democracia brasileira é assediada por bichos bem mais perigosos. Por vezes, juntam-se hienas, raposas, aves de rapina, abutres e roedores de toda espécie para assegurar posições estratégicas. Por exemplo: a presidência do Senado.

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