terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Bolsonaro recorre ao Twitter para negar intenção de se livrar de obras sacras; sobre “Orixás”, ele nada disse



O presidente eleito, Jair Bolsonaro, recorreu ao Twitter, para tratar da destruição dos Budas de Bamyian. Ops! Quis dizer: do despejo de obras de arte do Palácio da Alvorada. Afirmou:

“Fui surpreendido com a notícia que minha esposa retiraria imagens católicas da futura residência oficial devido sua religião. Ela evangélica e eu católico, ambos temos objetos que lembram nossa fé em nossa casa! Não por acaso, criam narrativas para nos desgastar a todo custo!”

Claro! Daqui a pouco, ele faz uma “live” para esculhambar a imprensa.

Sobre o quadro “Orixás”, de Djanira, que está para ser expulso do Palácio do Planalto, nada disse.

E as coisas vão se sucedendo desse modo…

Essa gente não perdoa o fato de que a imprensa fique sabendo das coisas.

O que o casal estava prestes a fazer era, antes de mais nada, uma agressão cultural. A questão religiosa, aí, é até secundária porque, afinal, cada um tem a sua crença, e dona Michelle Bolsonaro tem todo o direito de não gostar de imagens. O que ela não tem é o direito de interferir no patrimônio cultural brasileiro em razão da sua fé. E o mesmo vale para seu marido.

O problema dessas versões oficiais é que infantilizam o público, né?

General Heleno sai em socorro de Bolsonaro, diz ser tudo invenção da imprensa e que Mourão pediu Santa Bárbara

Vejam o que diz o general Augusto Heleno, futuro chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional:

“Liguei para o presidente hoje de manhã comentando sobre a repercussão altamente negativa disso aí na comunidade católica e ele já desmentiu categoricamente. É mais uma notícia inventada”.

General Heleno tem reputação de pessoa séria. E sempre levou adiante com correção a sua profissão. O que se depreende da frase acima? Se o presidente nega, então é coisa inventada pela imprensa. É claro que nem ele acredita na fórmula.

Vamos pensar em que circunstância isso aconteceria… Não tendo nada mais a fazer, os jornalistas pensam: “Ah, vou inventar que Michelle quer tirar cinco obras sacras do Palácio da Alvorada e que Bolsonaro quer se livrar do quadro ‘Orixás’, da Djanira”.

Mas, claro, dedicados, os profissionais ligam para o general:
“Eu acabei de inventar, general, que o senhor vai receber uma Santa Bárbara lá no Jaburu, oriunda do Palácio do Planalto…”

Para não deixar o repórter constrangido, o vice eleito confirma a transferência.

E Heleno também falou a respeito quando indagado se o vice se equivocou:

“Ele não se equivocou. O general pediu que a imagem de Santa Bárbara, que é a patrona da artilharia brasileira, fosse levada para o Palácio do Jaburu. Ele é oficial de artilharia e tem um apreço muito grande pela imagem. Só, o resto é fake news”.

Tá bom, futuro ministro!

General Heleno tem de se cuidar: não pode ser porta-voz de quem produz notícias negativas; tarefa é outra

Então ficamos assim: um dia, dá na veneta de Mourão pedir a Santa Bárbara entalhada em madeira. Eu nem sabia — e ninguém sabia, nem Mourão — que o vice eleito é um frequentador assíduo do Palácio da Alvorada. De tanto visita-lo e de andar por suas larguezas, veio a ideia: “Ah, por que não mando essa Santa Bárbara lá para o Palácio do Jaburu, onde vou morar?”

O general Heleno é muito sabido, mas, mesmo assim, vou me permitir lhe fazer uma sugestão, nunca um conselho: melhor ter logo um porta-voz, e do tipo que respeita a imprensa, para essas coisas. Isso não é função de Gabinete da Segurança Institucional. Ou o senhor põe a sua credibilidade a serviço de histórias da Carochinha, não e mesmo general? E, por óbvio, o senhor sabe que estou certo.

Nem os jornalistas inventaram a história. Nem Mourão teve a ideia, do nada, de pedir a Santa Bárbara, cuja existência talvez até desconhecesse. De resto, convenham: Mourão é, sim, opiniático e altivo, mas não deve ser do tipo que pede que o presidente eleito se livre de peças de sua futura residência oficial para decorar a dele, general.

Há uma boa maneira de Bolsonaro e sua família se verem livres de notícias negativas: parar de produzir notícias negativas, na certeza de que, depois, nas redes sociais, pode-se dar um jeito.

Sim, a expectativa sobre o novo governo, apontam as pesquisas, é positiva. Mas informo aqui: só não percebe que a corrosão da imagem já começou quem não quer. E a imprensa não tem nada com isso. Os únicos responsáveis são os Bolsonaros.

Por Reinaldo Azevedo

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