sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Aparelhamento dos Fundos de Pensão acabou com aposentadoria de 500 mil


Infografico Fundos de pensaoDéficit na Petros (da Petrobras), Funcef (Caixa) e Postalis (Correios) é de R$ 29,6 bilhões O Globo

De segunda a sexta, é tudo sempre igual. Sai de casa cedo, no Jardim América, Zona Norte, viaja uma hora até o Centro do Rio e passa o dia à espera de um serviço de despachante no entorno da sede da Petrobras, onde trabalhou um terço da vida. Deixou a estatal, em 1993, levando um plano de previdência anunciado na empresa como a garantia de um “futuro mais tranquilo”.

Aos 71 anos, Livaldo Pereira de Souza é um aposentado preocupado com o seu futuro e o de outras 150 mil pessoas que, como ele, apostaram no fundo de previdência da Petrobras:

— Não é possível que a Petros possa estar em situação difícil — hesita. — Quando mais vou precisar, ela não poderá pagar minha pensão? Como um fundo como a Petros, que tinha um dos maiores patrimônios depois da Previ (Banco do Brasil), pode estar em situação difícil? Isso só pode ser má gestão dos dirigentes, que sempre foram nomeados por indicação do governo federal.

Fundos de pensaoAflição similar há um ano consome o cotidiano em Brasília de Maria do Socorro Ramalho, de 56 anos. Ex-funcionária da Caixa Econômica Federal, ela começou a ouvir rumores sobre uma crise no fundo de previdência Funcef. O boato virou realidade numa segunda-feira, 13 de abril, quando ouviu o presidente da Funcef Carlos Alberto Caser confirmar o déficit:

— Foi chocante, porque eles viviam falando que estava tudo bem.

Maika, como prefere ser chamada, soube de uma mobilização dos sócios do fundo dos Correios. Aposentados da Funcef e do Postalis foram ao Congresso pedir ajuda para obter informações sobre a situação das contas. Ela descobriu que a situação no Postalis é bem pior que na Funcef.

Em quatro meses de ativismo, ela percebeu também como é a elevada sensibilidade do Legislativo às pressões do funcionalismo: a Câmara abriu uma CPI dos Fundos de Pensão e o Senado já tem outra na fila.

Sobram motivos. Um deles é o tamanho do déficit na Petros (da Petrobras), Funcef (Caixa) e Postalis (Correios): R$ 29,6 bilhões, pela última medição governamental, em agosto do ano passado.

Outra razão é a velocidade em que o rombo aumenta: média de R$ 3,7 bilhões ao mês, até agosto. Nesse ritmo, os balanços de 2015 de Petros, Funcef e Postalis, cuja divulgação está prevista para abril, devem fechar com perdas de R$ 44,4 bilhões — um valor sete vezes maior que as perdas reconhecidas pela Petrobras com corrupção.

O pagamento dessa fatura será dividido ao meio entre associados de Petros, Funcef e Postalis e as estatais patrocinadoras — ou seja, pela sociedade, porque as empresas são controladas pelo Tesouro Nacional. No Ministério da Previdência e na CPI, considera-se provável que os 500 mil sócios dos três fundos atravessem as próximas duas décadas com reduções nos rendimentos. De até 26% no caso do Postalis.

— Roubaram meu dinheiro — desabafa Jackson Mendes, aposentado com 42 anos de trabalho nos Correios.

Professor de Matemática, Mendes integra o grupo que levou a Câmara a instalar a CPI. Ele se diz convicto:

— Fizeram investimentos mal explicados e o dinheiro virou pó.

A maioria dos responsáveis pelos déficits das fundações públicas tem em comum a origem no ativismo sindical. Nos últimos 12 anos, os principais gestores dos fundos de Petrobras, Banco do Brasil, Caixa e Correios saíram das fileiras do Sindicato dos Bancários de São Paulo.

É uma característica dos governos Lula e Dilma, e as razões têm mais a ver com perspectivas de poder e negócios do que com ideologias.

Os sindicalistas-gestores agem como força-tarefa alinhada ao governo. Compõem uma casta emergente na burocracia do PT. Agregam interesses pela capacidade de influir no acesso de grandes empresas ao Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), fonte principal de recursos subsidiados do BNDES. Onde não têm hegemonia, por efeito do loteamento administrativo, convivem em tensão permanente com indicados pelo PMDB e outros partidos, caso do Postalis.

O uso dos fundos de pensão estatais como instrumento de governo é um traço peculiar do modo de organização política brasileira. Moldadas no regime militar, as 89 fundações públicas existentes dispõem de uma reserva de investimentos (R$ 450 bilhões no ano passado) que seduz governantes: permite-lhes vislumbrar a possibilidade de induzir iniciativas econômicas, por meio da participação dos fundos na estrutura de propriedade das empresas envolvidas. Petros, Previ, Funcef e Postalis, por exemplo, concentram dois terços do patrimônio dos fundos públicos.

Essas entidades paraestatais cresceram nas privatizações iniciadas por Fernando Collor e Itamar Franco. Com Fernando Henrique Cardoso, passaram ao centro das mudanças na mineração (Vale) e nas comunicações (Telefônicas).

Quando chegou ao Planalto, em 2003, Lula estava decidido a ampliar esse canal de influência sobre o setor privado, pela via da multiplicação da presença dos fundos de pensão estatais e do BNDES no quadro societário das empresas.

Havia um projeto, desenhado desde os primórdios do PT e da Central Única dos Trabalhadores, por iniciativa de Luiz Gushiken, então presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo.

Tipo incomum, ascendera à liderança sindical convocando greves a bordo de terno e gravata. Trocou a militância no comunismo trotskista pela composição com Lula, líder dos metalúrgicos, a partir de uma conversa de botequim. Ajudou a escrever o primeiro estatuto, presidiu o PT, elegeu-se deputado federal três vezes e se tornou um dos mais influentes assessores de Lula.

Foram os negócios nada ortodoxos entre fundos estatais e empresas privadas durante o governo Collor, em 1991, que levaram Gushiken e dois diretores do sindicato paulistano, Ricardo Berzoini e Sérgio Rosa, a abrir o debate dentro do PT sobre o potencial político dos fundos de pensão — até então percebidos como meros instrumentos governamentais de cooptação de sindicalistas.

No ano seguinte, a cúpula político-sindical do PT elegeu bancários para diretorias da Previ e da Funcef, derrotando a velha guarda da Confederação dos Trabalhadores nas Empresas de Crédito.

O grupo avançou com a eleição de Berzoini à presidência do sindicato paulistano, com Sérgio Rosa e João Vaccari Neto na diretoria. Meses depois, esse trio teve a ideia de entrar no ramo imobiliário com apoio financeiro dos fundos de previdência: nascia a Bancoop, cooperativa habitacional, hoje alvo de múltiplos processos por suposto desvio de dinheiro para campanhas do PT e calote em mais de dois mil clientes.

Gushiken decidiu não disputar o quarto mandato de deputado federal pelo PT, em 1998. Berzoini ficou com a vaga. Elegeu-se, mas fez questão de continuar na direção da Bancoop até a campanha presidencial de Lula, em 2002.

Na sede da CUT, Gushiken instalou um curso para formação de sindicalistas em Previdência Complementar. Sinalizava o rumo nas apostilas: “No Brasil, o fundo de pensão como fonte de poder ou como potente agente de negociação nunca foi objeto de discussão nos sindicatos (…) Existe a possibilidade, não remota, de que este monumental volume de recursos, oriundos do sacrifício de milhões de trabalhadores, venha a se transformar num gigantesco pesadelo para estes mesmos trabalhadores”.

O grupo testou o potencial de um fundo estatal na campanha presidencial de 2002. Sérgio Rosa estava na diretoria de Participações da Previ, onde decidem-se os investimentos. Numa quinta-feira, 9 de maio, ele despachou cartas a uma centena de conselheiros do fundo em empresas privadas. Pediu informações sobre como a disputa política “está sendo abordada na empresa em que nos representa” e “qual o posicionamento” das companhias privadas quanto à “participação efetiva no processo”.

Naquele ano eleitoral, as aplicações da Previ no mercado de ações foram quadruplicadas. Adversários sindicais, como Magno de Mello e Valmir Camilo, relacionaram as aplicações da Previ com doações de empresas privadas para Lula e 254 candidatos do PT em todo o país.

Eleito, Lula deu à burocracia sindical 11 dos 33 ministérios e partilhou diretorias na Petrobras, Banco do Brasil, Caixa e Correios com PMDB e PTB, entre outros integrantes da “maior base parlamentar do Ocidente”, como definia o ministro da Casa Civil, José Dirceu.

Gushiken ficou com a Secretaria de Comunicação; Berzoini foi para o Ministério da Previdência; e Vaccari assumiu o sindicato em São Paulo. Eles definiram com Lula o comando dos maiores fundos de pensão estatais a partir do núcleo do sindicalismo bancário. Assim, Sérgio Rosa ganhou a presidência da Previ, Wagner Pinheiro ficou com a Petros e Guilherme Lacerda foi para a Funcef. Ao PMDB reservaram o menor, Postalis.

Na Previdência, Berzoini fechou o circuito com a nomeação de um ex-conselheiro fiscal da Bancoop, Carlos Gabas, para a secretaria-executiva do ministério, que controla o órgão de fiscalização dos fundos de pensão, a Previc. Passaram os anos seguintes testando na prática o projeto que haviam imaginado na década de 80. Os bons companheiros estavam no poder.

Um comentário:

AHT disse...

Anos 70, os nossos Anos de Ouro... economia expandindo, pleno emprego... casa própria, fuca, depois brasília, kombi, fim de semana na praia...

Anos 80, 90 e 10 do século XXI... como surgiram novos e roxos petistas... principalmente, metalúrgicos, petroleiros, bancários da CEF e BB.

Eu e meu irmão mais velho conhecemos alguns petroleiros e bancários que se tornaram sindicalistas, cresceram com o PT, foram premiados pelo PT e agora têm que servir o PT, nem que seja "apenas" ao dono do PT e seus oficiais de confiança e roubanças, que não podem ser em número maior que quatro, por óbvios detalhes e, o principal: para não dar azar.

Destes ex-sindicalistas petroleiros, tem até um filho que herdou o DC (Direito Companheiro) de ser amigo e sócio de filho daquele que seria o Salvador da Pátria. E não apenas isso, também ceder uma de suas propriedades, um invejável espaço bucólico em Atibaia, para agradar e proporcionar invejável bem-estar ao ex-Salvador da Pátria e sua DCO (Digníssima Companheira Oficial, e não confundir com a DCO-AO, a ex-oficial e subalterna "a outra").

Ironia do destino... boa parte daqueles que foram merecidamente empregados pelas estatais e a partir do tempo de pleno emprego dos anos 70, todos selecionados através de concursos públicos, agora reprimem suas preocupações com a situação dos fundos de pensões, e continuam sendo lulopetistas. A todos que trabalharam honestamente e de boa fé acreditaram e continuam acreditando nos líderes sindicalistas e no PT, meus respeitos por tanta "coerência forçada".

E assim, misturando alhos com bugalhos, aposentados do setor público, das estatais e, nós, a grande maioria da "iniciativa privada", Os Merrequeiros Do INSS", lá vai:

APOSENTADOS BRASILEIROS, PACATOS e IRONIAS


Ao trabalho, vamos!
Pendurados ou espremidos nos bondes e trens,
Ou enlatados em ônibus,
Sorrindo ou tentando cochilcara, espremidos
E agradecidos pelo pão de cada dia.
Não desanimávamos, pois o
Trabalho enobrece o homem.
Acreditávamos nisso e desde a nossa infância.
Desempregos aconteciam e nossas famílias sentiam,
Obrigando-nos a fingir que não tínhamos fome e
Suplicando à Vergonha, “Cale nossos estômagos”.

Brasil crescendo, gerando
Riquezas às custas do nosso suor e sangue.
A Previdência Social, Leão da Receita e Tributos
Sempre mudando regras, e os trabalhadores? “Top, top".
Inventivos formuladores de Leis e MPs sempre
Levando o nosso dinheiro para outros cofres.
E agora, estamos aposentados e a pensão é uma merreca.
Infelizes, pobres e doentes, de nada adiantou
Rogar, “Senhor Presidente, cumpra o que prometeu”.
O “Senhor Presidente” só ouvidos para “empreendedores” e lobistas,
Sacramentando negócios. A luxúria cala a consciência...

=====

Passado. Saudosos tempos e dos alentos daquele Brasil.
A realidade de hoje corrói nossa esperança, aos poucos.
Cidadãos antes pacatos e confiantes,
Agora inseguros e acuados pela bandidagem e corruptos,
Têm medo da própria sombra - mas,
Os políticos continuam ironizando os pacatos:
Sorrindo, e só nos ”entretanto, todavia, contudo...”

=====

Ironizar
Rir, debochar
O próximo massacrar
Negar
Irado ficar
Amordaçar
Sufocar e, dissimuladamente, descartar


Se elles de nós ironizam, nós temos o pleno Direito delles também ironizar. 13 DE MARÇO ESTÁ PRÓXIMO, OU VAMOS ÀS RUAS MANIFESTAR, OU CALEMOS PARA SEMPRE
pt saudações