Vocês se lembram da gritaria que o PT promoveu quando o governo FHC privatizou o sistema de telefonia. A coisa foi tratada como crime de lesa-pátria. Os que comandaram aquele processo foram parar nas barras dos tribunais. Foram todos inocentados porque não havia crime nenhum. Mas os companheiros inventaram a falácia de que o patrimônio público estava sendo doado, para usar uma expressão da época, “a preço de banana”. Elio Gaspari cravou, por exemplo, o termo “privataria”. Os acusados comeram o pão que o diabo amassou. Até hoje há tontos de celular na mão contrários à privatização — aquela, sim, virtuosa.
Mas há as privatizações viciosas, elas, sim, coisa de piratas. Vamos ver.
O sítio em Atibaia frequentado pelo ex-presidente Lula e seus familiares dispõe de cobertura de celular sem os inconvenientes de sinal fraco em áreas não urbanas. De acordo com reportagem do jornal “Valor”, a operadora Oi instalou uma torre a menos de 150 metros da propriedade rural.
O equipamento, ainda segundo o jornal, não está no ponto mais alto da região e não segue o traçado das rodovias que dão acesso a Atibaia, diferentemente das outras 18 torres que a Oi mantém na cidade. A torre foi instalada em setembro de 2011. A Andrade Gutierrez, uma das investigadas na Operação Lava Jato, compõe o bloco que controla a operadora.
Que coisa!
Como esquecer? A Oi é a sucedânea da Telemar, empresa de telefonia que comprou, em 2005, por R$ 5 milhões, 30% da Gamecorp, de Fábio Luiz da Silva, o filho mais velho de Lula. Quando o pai chegou ao poder, o rapaz era monitor de jardim zoológico. Dois anos depois, já recebia esse incentivo milionário de uma concessionária de serviço público, que tinha o BNDES, um banco público, entre os sócios.
Não só. A empresa que instalou essa antena em ponto estratégico — é incrível como os empresários amigos de Lula gostam dos amigos do… filho de Lula!!! — é a mesma que foi beneficiária de um decreto assinado pelo então presidente que tinha o objetivo específico de permitir que ela fizesse um negócio. Explico.
Daniel Dantas, Brasil Telecom, Lula etc.
A briga de foice entre Daniel Dantas e setores do petismo estava ligada ao controle da Brasil Telecom. Isso já foi explicado aqui. Sobraram golpes baixos de todos os lados, mas uma coisa é certa: a companheirada tramou para tentar tirar o empresário da companhia. Eram aqueles tempos em que parte do atual JEG (Jornalismo da Esgotosfera Governista) acusava de “agente de Daniel Dantas” qualquer pessoa que se atrevesse a criticar o PT e os petistas. Inventaram um demônio para poder demonizar os críticos.
Dantas finalmente cedeu e resolveu vender a sua participação na Brasil Telecom, que acabou sendo comprada pela… Telemar, o que resultou na gigante Oi. Lula, pessoalmente, sem intermediários, se encarregou de protagonizar um dos maiores escândalos do país: decidiu que o BNDES financiaria a operação. Para Dantas, foi um negocião: vendeu a sua parte por R$ 2 bilhões e saiu da mira do petismo. Aquilo a que se assistiu, a partir de então, foi um espetáculo grotesco. Transformou-se a criação da “Oi” numa manifestação de afirmação e resistência nacionalistas.
Segundo a versão oficial, ditada, então, por Franklin Martins e pressurosamente espalhada por áulicos, anões, mascates e jornalistas “dualéticos” (aqueles que têm duas éticas: uma para os petistas e outra para os demais), Lula, o Numinoso, queria criar uma grande empresa nacional para competir com as gigantes estrangeiras — caso contrário, as brasileiras seriam engolidas.
O Apedeuta mobilizou o governo para dar suporte à operação. Com um detalhe: nunca antes nestepaiz se havia feito um negócio bilionário que dependesse de uma mudança ad hoc da lei: se Lula não alterasse o decreto da Lei das Outorgas, a operação não poderia ser realizada. Mas ele prometeu mudar.
LULA MANDOU O BNDES FINANCIAR A OPERAÇÃO DE COMPRA DA BRASIL TELECOM ANTES MESMO DE MUDAR A LEI. Ou por outra: quando decidiu que o banco oficial entraria na parada, estava praticando uma ilegalidade.
O Apedeuta deixou claro: o BNDES só financiaria a operação e ele só mudaria a lei se fosse para a Telemar comprar a Brasil Telecom. Se a interessada fosse outra empresa qualquer, nada feito. E assim se deram as coisas.
Como se vê, quem tem padrinho não morre pagão nem tem a ligação abruptamente interrompida.
Eis aí: essa é a privatização de que o PT gosta; essa é a relação com o capital privado que o partido gosta de ter; esse é o entendimento que tem a legenda da questão pública.
Claro, todos conhecemos os desmentidos de praxe, a despeito das evidências.
Por Reinaldo Azevedo
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