sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Processado Político - Novo gênero para o perseguido político




Eu ainda não tinha lido ou ouvido em outro lugar, apenas na Rádio Capital e nos blogs cooptados, o prefeito destilar sua ira contra quem o critica. Achei estranho a Vanguarda e o G1 Vale do Paraíba publicarem matéria com o título “Justiça condena casal por ofender prefeito de Caçapava na web”. Fiquei pensando qual seria o interesse jornalístico da Vanguarda nessa reportagem, já que processos contra cidadãos insatisfeitos que criticam a atual administração são constantes. E é bom lembrar que houve casos muito mais relevantes, jornalisticamente falando, que esse. Audiências tumultuadas, provocações e até manifestação pública na porta do Fórum foram ignorados pela Vanguarda. 

Então lembrei. Tempos atrás, na mesma rádio, o prefeito de Caçapava atacou a Rede Vanguarda, por causa de matéria contrária a seus interesses políticos. Disse o prefeito na rádio que para a Vanguarda falar bem dele, ele teria que pagar R$ 4 milhões para ela. 

Minha estranheza é ver em ano de eleição uma matéria mostrando o prefeito de Caçapava como caridoso, que, mesmo sendo vitima de ataque sem motivos, ele vai doar sua indenização a uma instituição de caridade.

Uma ova Rede Vanguarda! Fossem seus repórteres procurar o motivo das “ofensas” certamente acharia! Telma Takahashi, parte do casal mencionado na reportagem, ganhou uma ação trabalhista da Prefeitura (jornal Via Vale nº 538). Foi dito na ação: “Após a assunção do novo governo (Rinco) passou a ser perseguida no seu ambiente de trabalho”. Motivo, creio eu, mais que justo para críticas contundentes ao perseguidor.

Vale lembrar, quando ofensas não são encontradas e as críticas são justas, entra em campo a perseguição institucional. O uso da máquina pública.

Então, qual foi o interesse da rede Vanguarda em publicar está matéria? Qual o interesse dos telespectadores da Vanguarda e dos leitores do G1 Vale, nesta matéria? Por que a Vanguarda não se interessou pelos mais de cinquenta processos que o prefeito de Caçapava e seus esbirros impuseram a cidadãos comuns por críticas políticas?

Bem, hora e vez dos vereadores, esses dignos representantes do povo, entrarem em ação. A matéria parece ter somente relevância política. Assim sendo, merece uma investigação já que, segundo o prefeito, a Vanguarda não é de dar colher de chá, não. 

No tempo da ditadura militar tínhamos os presos políticos, indivíduos encarcerados numa prisão pelas autoridades, por exprimir ideias, por palavras ou atos discordantes com o regime em vigor. Em Caçapava o atual prefeito está criando o processado político.

Os presos políticos de outrora se tornaram pessoas importantes para o Brasil de hoje. Quem sabe o que a política reserva, amanhã, para esses destemidos cidadãos caçapavenses, processados e perseguidos pela atual administração. 

Atualmente, a prisão política é considerada uma violação dos direitos humanos.


PS: Trechos da decisão do Ministro Celso de Melo, do Supremo Tribunal Federal, na ARE 722744 quanto a liberdade de expressão: 

“Nada mais nocivo, nada mais perigoso do que a pretensão do Estado de regular a liberdade de expressão (ou de ilegitimamente interferir em seu exercício), pois o pensamento há de ser livre, permanentemente livre, essencialmente livre”.

Segundo entendimento jurisprudencial, o exercício concreto da liberdade de expressão assegura o direito de manifestar crítica, “ainda que desfavorável e em tom contundente, contra quaisquer pessoas ou autoridades”. O interesse social que legitima o direito à crítica, segundo Celso de Mello, “sobrepõe-se a eventuais suscetibilidades que possam revelar as figuras públicas, independentemente de ostentarem qualquer grau de autoridade”

Assim, a publicação de matéria ou manifestações que divulguem “observações em caráter mordaz ou irônico” ou opiniões em tom de crítica “severa, dura ou, até, impiedosa, especialmente em relação a figuras públicas, investidas, ou não, de autoridade governamental, não caracteriza hipótese de reparação civil”

Por Clovis Cunha

Um comentário:

Anibal Tosetto (AHT) disse...

A IMPORTÂNCIA DO PRIMEIRO CLIPE NA TRAJETÓRIA DE UM POLITICO

É feriado, 1º de janeiro. O cidadão eleito prefeito toma posse.

Dia seguinte. Prefeito eleito comparece à prefeitura. Faz o reconhecimento do gabinete, se depara com o mapa do município pendurado na parede, respira fundo e diz, emocionado, "Graças às urnas ganhei tudo isso para governar! Que presentão... quer dizer... que desafio!"

Controla a emoção, vai até a mesa de trabalho, ajeita e senta na confortável cadeira giratória. Ensaia poses e semblantes dignos de um prefeito democraticamente eleito. Dá três giros na cadeira, vibra igual um menino visitando o escritório do papai. Sente e curte o molejo gostoso da cadeira e se lembra da mamãe querida, repetindo baixinho o que ela dizia para a comadre e a respeito dele, "Veja como esse meu filho e vosso afilhado é abençoado, esperto, sapeca... que criança alegre, feliz! Benzadeus."

Antes que alguém entre, abre a gaveta da mesa, vê uma caixinha de clipes, pega e abre, tira e segura um clipe, que aperta entre seus dedos polegar e indicador da mão esquerda, e sussurra... "O meu pai falava que um clipe além de prendedor de papéis, tem outras funções, serve até para prender gravatas! Um dia terei um prendedor de gravatas de ouro e cravejado de diamantes... Clipe, ó clipe! Graças às urnas, você é meu!", e dá um "selinho" no clipe. Tira a carteira do bolso esquerdo da calça, confere e confirma, além da foto com esposa e filhos, Habilitação e duas notas de 20 reais. Guarda o clipe em um compartimento da carteira. Pega e fecha a caixinha de clipes e, juntamente com a carteira, coloca no bolso esquerdo da calça.

Nesse primeiro expediente, ele se ocupa em receber a imprensa, correligionários e funcionários municipais mais graduados, o juiz, padre, pastores e delegado, enquanto a simpática copeira da prefeitura serve café e bolacha maria para o prefeito e a cada uma de suas visitas. A copeira não consegue se segurar e murmura para o prefeito, "Estou caprichando, preciso de aumento de salário, nem que seja por fora...".

Final do primeiro dia de expediente. O sorriso dele é largo, olhos radiantes e sobejando alegria. Parece um adolescente depois do primeiro beijo ganho da primeira namorada. Sai da prefeitura e passa na loja de materiais para construção, de sua propriedade. Vai até o escritório da sub-gerente da loja. Ao tirar a caixinha de clipes do bolso esquerdo da calça, se descuida e deixa cair a carteira. Rapidamente pega a carteira do chão, mas a sub-gerente vê a carteira recheada com notas de 100 reais. Prefeito sorri para a sub-gerente e, diz: "Boa tarde, Srta. Cleidenir! Enquanto estive na prefeitura, a loja vendeu bem?... Aqui estão os clipes que você pediu para comprar. Não desperdice esses clipes, viu?".

Vai para a casa, dá um beijo na esposa, filha e filho caçula. Toma banho. O jantar é servido. O prefeito se despede e vai para a reunião de balanço da campanha eleitoral e ações visando compor um Legislativo pró Executivo. No Diretório do partido, cumprimenta o presidente, secretário, tesoureiro e quatro vereadores eleitos. Conversam um pouco enquanto aguardam o ex-prefeito, também do mesmo partido. Ex-prefeito chega, é o primeiro a ser cumprimentado. O ex-prefeito quase encosta a boca no ouvido dele e, cochichando, pergunta: "Companheiro, você encontrou a caixinha de clipes que deixei de presente para você? Para o próximo prefeito, não importa se for de outro partido, não quebre essa tradição, que significa um poderoso bastão da sorte e deve ser passado de mão em mão."

Moral da História: Na vida de um político é inesquecível o primeiro clipe ganho de presente. O primeiro clipe dá sorte e ânimo para iniciar a trajetória política e obtenção de muitos e muitos outros presentes. Os demais clipes ganhos é sinal que o político é bem sucedido, segundo uma lenda surgida em Brasília e rapidamente se espalhou por todo o Brasil.

DF, 12/11/2013
Nota: Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.