Que país o nosso, não é mesmo? Em que abismo nos metemos!
A presidente Dilma Rousseff foi ao Congresso nesta quarta-feira levar a sua mensagem. Foi vaiada por parlamentares da oposição e da situação. Fez o que disse que não faria: defendeu a criação da CPMF. Também acenou com a reforma da Previdência — contra a qual seu partido milita abertamente. Pediu ajuda do Congresso em favor de um projeto de crescimento. Qual? A gente desconhece a agenda — na hipótese de haver uma.
Ali estava, vamos dizer, a herança dos últimos 13 anos da política brasileira, entrando no 14º. A líder que falava transgrediu os Artigos 10 e 11 da Lei 1.079 e, por isso, tramita na Câmara dos Deputados uma denúncia contra ela que pode resultar no impeachment.
Aquela que pedia o apoio do Congresso para sabe-se lá o quê tem hoje um único plano de governo: não cair. Para tanto, fez e faz o diabo com a máquina pública. O loteamento miserável existente na área de Saúde, num país em que os mosquitos já decoram até a página oficial do governo, é testemunho da qualidade da gestão.
Mas aquela Dilma que falava sobre coisa nenhuma, visando exclusivamente à manutenção do cargo, tinha na audiência, entre outros o presidente da Câmara e o presidente do Senado.
O primeiro já foi denunciado ao Supremo pela Procuradoria-Geral da República. É investigado em três inquéritos. Todas as justificativas que apresentou foram para o ralo. Nesta quarta, diga-se, um aliado seu deu um jeito de apelar a mais um firula regimental para fazer o processo no Conselho de Ética da Câmara voltar à estaca zero. Melhor para Dilma. Enquanto ele fica lá, ela se finge de sua vítima.
E lá estava também Renan Calheiros, presidente do Senado e do Congresso Nacional. Há seis inquéritos contra ele na Lava-Jato — que, curiosamente, andam a passos de cágado.
A presidente fez bem, sim, em ir ao Congresso. Afinal, quem lidera uma reunião do tal Conselhão — onde nada se decide — tem de ir pessoalmente falar com aqueles que têm voto. Sabia que poderia ter uma reação algo hostil, como houve. E não há nada de errado nisso. É só a democracia. Procurem na TV como reagem os deputados do Reino Unido quando o primeiro-ministro vai ao Parlamento para enfrentar o líder da oposição, ambos com o dedo em riste.
O que a gente tem de lamentar, aí sim, é que a presidente estava lá, com um suposto — na verdade, inexistente — plano contra a crise econômica, mas o que se via era apenas o retrato perfeito da crise moral, da crise ética e da crise de credibilidade.
Poderia ser o prenúncio de alguma coisa. Mas não é nada. A reunião poderia servir, isto sim, para um ensaio acadêmico sobre a efetividade do Código Penal.
Por Reinaldo Azevedo
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