O PT, fulminado por uma avalanche de escândalos que não consegue explicar – e que, a rigor, dispensam explicações -, socorre-se num argumento único: é vítima de uma sórdida campanha da mídia para criminalizá-lo.
Ora, se há uma instância em que o partido, que celebra este fim de semana seus 36 anos, ainda encontra defensores é exatamente na mídia - impressa, falada, televisada e digitalizada (esta sustentada com dinheiro público).
A mídia não criminalizou o PT – e, sim, o PT criminalizou a política. Mais: indiferente às falcatruas fiscais do governo Dilma e às denúncias de que sua reeleição foi nutrida com dinheiro roubado da Petrobras, alega que a tentativa de depô-la, via impeachment ou via TSE – ou seja, dentro das normas do Estado democrático de direito -, tem como fundamento evitar a eleição de Lula em 2018.
O partido já foi mais inteligente em seus argumentos. Antes de mais nada, o Ibope acaba de constatar, em pesquisa, que confirma as anteriores, que 61% dos brasileiros asseguram que, em hipótese alguma, votariam em Lula. Ainda que todos os demais votassem – e não é o caso -, não teria como se eleger.
O panelaço de terça-feira, em que Lula falou em rede de TV, demonstra que o Ibope não errou – foi até moderado.
Nenhum partido e nenhum presidente da República foram mais festejados pela imprensa que PT e Lula, não obstante terem chegado ao poder não exatamente imaculados.
O prontuário começou bem antes da chegada ao Planalto, com o assassinato dos prefeitos Antonio da Costa Santos, o Toninho do PT (Campinas), em setembro de 2001, e de Celso Daniel (Santo André), em janeiro de 2002, casos ainda hoje à espera de desfecho. Em ambos, são nítidas as digitais do PT.
Dois meses depois de Lula assumir a presidência da república, em março de 2003, estourou o escândalo Waldomiro Diniz. Era o subchefe da Casa Civil, homem de confiança de José Dirceu, que desempenhava a função de “articulador parlamentar”. Foi flagrado pedindo propina ao bicheiro Carlos Cachoeira.
Na sequência, vieram o Mensalão e o Petrolão, que, a rigor, compõem um só enredo: a rapina ao Estado, em parceria com um pool de empresários delinquentes. Corrupção sistêmica, algo inédito mesmo para os podres padrões da república brasileira.
Há ainda diversas caixas-pretas a serem abertas: Eletrobrás (que o STF tirou das mãos do juiz Sérgio Moro), BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica, fundos de pensão etc.
Em cada uma dessas instâncias, o governo se move para impedir qualquer hipótese de investigação, o que já é em si uma confissão antecipada de que oculta falcatruas.
O PT inaugurou o roubo do bem. Seria diferente dos convencionais, pois teria destinação social. Se sobrou um troco para um tríplex ou um sítio, é bobagem, mera gorjeta para quem, afinal, colocou “30 milhões de pobres na classe média”. Pouco importa se eles - se é que lá estiveram - já fizeram a viagem de volta.
A depressão econômica está acabando com a própria classe média, mas a culpa, claro, é da crise internacional (que antes era apenas “uma marolinha”), não do governo.
Não só o povo não viaja mais de avião, mas também o personagem criado pelo PT, o burguês que “não gosta de sentar ao lado do povo”. Nisso, a crise é democrática: liquida a ambos.
Coerência é palavra ausente do glossário petista. Depois de arrombarem a Petrobras, indignam-se com os que a querem salvar. É o caso do projeto do senador José Serra, aprovado esta semana pelo Senado, que estabelece que, a critério do governo, a empresa se desobriga de participar das prospecções do pré-sal.
O projeto salva a Petrobras, mas os seus algozes, a pretexto de defendê-la, alegam o contrário, fazendo o papel do verdugo que se abraça ao cadáver que acabou de produzir.
Graças ao PT, a Petrobras deve mais do que vale e suas ações estão cotadas ao preço de um guaraná. Lula, às voltas com o Código Penal, acha, no entanto, que o país, hoje, “inspira mais confiança”. Os especialistas preveem que a Petrobras levará mais ou menos uma década para retornar ao lugar que já ocupou – ela e o país. E isso, claro, se o ambiente político mudar radicalmente.
Vai mudar, não há dúvida. O quer não se sabe é a que preço. A resistência do governo em reconhecer os estragos e, mais que isso, a ausência de remédios para os males que perpetrou, torna o processo mais penoso e preocupante.
A melhor saída seria a sugerida pelo ministro Marco Aurélio, do STF: renúncia dos presidentes da república, da Câmara e do Senado e convocação imediata de eleições. Mas falta grandeza aos protagonistas – ou coragem para responder judicialmente a seus erros sem o guarda-chuva do poder. Aguardemos.
Por Ricardo Noblat
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