Dora Kramer (o título é meu)
Lá se vão os anéis
De concreto, as denúncias de superfaturamento de obras e cobrança de propinas
no Ministério dos Transportes resultaram em 18 demissões e na avaliação geral de
que a presidente Dilma Rousseff está promovendo uma "faxina" em regra na
área.
Tudo o mais está muito esquisito. A começar pelo alheamento do ministro da
Justiça e a discrição da Polícia Federal, outrora convocada a avalizar a
disposição do governo federal no combate à corrupção.
Sobre o tema o ministro José Eduardo Cardozo até agora se limitou a dizer que
a PF "há tempos" investiga o que se passa no ministério. Nos casos que fizeram a
presidente demitir ministro e companhia mais a diretoria do Departamento
Nacional de Infraestrutura de Transportes, a polícia está avaliando a
possibilidade de atender aos pedidos de investigação feitos pela oposição.
"Se a PF provar alguma irregularidade, seguramente apontará para uma ação
penal", afirmou.
Como assim, "se" for provada "alguma irregularidade"?
A presidente da República não acabou de demitir 18 pessoas, justamente
baseada na conclusão de que havia não "alguma irregularidade", mas a ocorrência
de crimes que caracterizam prevaricação?
Qualquer entendimento diferente deste leva à conclusão de que a presidente
foi leviana e quis apenas buscar popularidade com o pescoço alheio. Cometeu
grave injustiça e, com isso, dá razão a dois dos demitidos que contestaram
publicamente a decisão de Dilma.
Luiz Antonio Pagot, ex-diretor geral do Dnit, e Hideraldo Caron, responsável
pela diretoria de Infraestrutura Rodoviária.
O primeiro foi ao Senado e à Câmara dizer que nada havia feito de errado e
todas as suas ações eram do pleno conhecimento da presidente, a quem tivera
oportunidade de esclarecer as razões da "mudança de escopo" (sinônimo não
contabilizado para aumento de custos) das obras do PAC.
Foi celebrado como cidadão acima de qualquer suspeita por senadores e
deputados da base governista e, no ato de apresentação de sua demissão, o fez em
meio aos aplausos de 500 funcionários do Dnit, em desagravo orquestrado.
O segundo dos demitidos com honras de Estado - a ambos foi conferido o
privilégio de tomar a iniciativa -, o petista Hideraldo Caron, também alegou não
existir "nada de concreto" sobre ele, justificou que saía "por razões políticas"
e ainda considerou "exageradas" as providências tomadas pela presidente.
A tudo o Palácio do Planalto assistiu passivamente, como se o temporário ônus
pagasse o bônus do "upgrade" à imagem da presidente como operadora da mudança de
hábitos na Esplanada dos Ministérios e adjacências.
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