Augusto Nunes
Até a primeira semana de julho, a duplicação da BR-101 entre os municípios de
Palhoça, em Santa Catarina, e Osório, no Rio Grande do Sul, foi reiteramente
apresentada por Lula e Dilma Rousseff como “a maior obra rodoviária no PAC no
sul do Brasil”.
Depois da reportagem de VEJA que abriu as comportas que represavam a
roubalheira imensa, o trecho de 348 quilômetros foi sumariamente devolvido ao
Ministério dos Transportes. Antes da descoberta da quadrilha, com exceção de
atropelamento com vítima, era creditado na conta do Programa de Aceleração do
Crescimento qualquer sinal de que as coisas andavam ─ a capinagem de um metro de
acostamento, o plantio de um tufo de grama no canteiro central, até a entrega de
uma placa de sinalização. Agora, a Mãe do PAC faz de conta que nem conhece uma
das crias favoritas.
Enquanto demite pecadores, Dilma capricha na pose de quem não tem nada a ver
com o pecado. Tem tudo, grita, por exemplo, a folha corrida do companheiro
Hideraldo Caron, enfim afastado da Diretoria de Infraestrutura Rodoviária do
Dnit.
Há seis anos no cargo por indicação da atual presidente, Caron acumulou nesse
período as funções de babá de rodovia. Com tamanha dedicação que acabou
estabelecendo recordes de dimensões assombrosas mesmo para um país que perdeu a
vergonha. Assinou 23 contratos, quase quatro por ano. E patrocinou 268 termos
aditivos que aumentaram o preço em R$ 317,7 milhões.
O buraco negro denunciado seguidamente pelo Tribunal de Contas da União já
engoliu quase R$ 2 bilhões, que não incluem pontes e túneis que sequer foram
licitados. Uma ponte sobre o canal Laranjeiras já devorou R$ 596 milhões e segue
à espera da licença ambiental.
Cálculos otimistas garantem que não ficará pronta antes de 2015 a maravilha
que Lula prometeu inaugurar em 2010. Deve ter acreditado nos relatórios do PAC.
O mais recente adornou com o selo de “obra concluída” o trecho gaúcho ainda em
execução.
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