Augusto Nunes
Desde a descoberta da quadrilha em ação no Ministério dos Transportes, o
ex-presidente Lula imita o punguista que capricha na pose de inocente enquanto
se afasta da vítima para descer do ônibus no primeiro ponto. A expressão de
culpado sem culpa não convence nem passageiros que estão cochilando. Até um bebê
de colo sabe que a parceria com o PR é mais uma das incontáveis obras repulsivas
que compõem a verdadeira herança maldita.
Foi Lula quem doou a Valdemar Costa Neto, ainda em 2002, o Ministério dos
Transportes. Na infame reunião sigilosa que deu origem ao esquema do mensalão, o
candidato ganhou o vice José Alencar em troca dos direitos de exploração da
usina de contratos superfaturados e negociatas multimilionárias.
Foi Lula quem descobriu, em 2004, que Alfredo Nascimento era o homem certo
para o comando do território sem lei. Ficou tão satisfeito com a performance do
ministro meliante que o reinstalou no cargo no segundo mandato e exigiu de Dilma
Rousseff que ali o mantivesse.
Só agora, muitos dias depois de desbaratado o bando, o animador de auditório
criou coragem para murmurar platitudes sobre mais um escândalo. Primeiro,
balbuciou que a sucessora está agindo direito e mudou de assunto.
Nesta quinta-feira, subiu o tom de voz dois ou três decibéis para fazer de
conta que não tem nada com isso. ““Se as pessoas agirem com honestidade e com
decência, todo mundo poderá ser absolvido”, recitou o Padroeiro dos Companheiros
Pecadores. “Se cometeram erros, as pessoas devem ser punidas. Isso vale para a
presidente Dilma, valia para mim e vale para qualquer um”.
O cinismo que jorra do palavrório é tão nauseante quanto previsível. Haja
estômago para suportar um Lula discorrendo sobre honestidade e decência sem
temer que um raio bíblico lhe caia sobre a cabeça.
Mas nada tem de surpreendente ouvi-lo qualificar de “erros” os assaltos aos
cofres públicos que se repetem em ritmo de Fórmula-1 há oito anos e meio, com as
bênçãos do Planalto, e não têm data para terminar.
Caso use as palavras certas ─ ladroagem, corrupção, roubalheira, fora o resto
─, Lula terá de admitir que nunca antes neste país um presidente da República
juntou tantos bandidos no mesmo governo.
O Ministério dos Transportes é só mais um entre quase 40. O PR é apenas uma
ramificação da imensa quadrilha federal.
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