quinta-feira, 28 de julho de 2011

Casarão com goteiras é depósito do INSS em Osasco

Folha.com


Casarão em ruínas em Osasco, em São Paulo, usado pelo INSS para estocar processos
Casarão em ruínas em Osasco, em São Paulo, usado pelo INSS para estocar processos


O casarão térreo localizado onde antes era uma chácara, em Osasco (SP), parece mal-assombrado. Com o teto vazado por goteiras, lá estão estocados pelo menos 75 mil processos de concessão de benefícios do INSS.

"Milhares de documentos estão simplesmente se decompondo, já que o local, cheio de goteiras, infestado por ratos, aranhas e baratas, não oferece mínimas condições de armazenagem", diz José Rubens Decares, diretor do Sinsprev (Sindicato dos Trabalhadores em Saúde e Previdência de São Paulo).


Da rua vê-se o tamanho do problema. As cercas de arame farpado foram cortadas. O terraço da casa está preenchido por armários de aço enferrujados, nos quais atolam-se documentos.


As janelas do casarão têm de permanecer abertas para ventilar os documentos --é que, quando chove, formam-se poças de água lá dentro.

Fotos obtidas com exclusividade pela Folha mostram a situação no interior da casa. São centenas de caixas de papelão cheias de documentos, empilhadas. A pressão das caixas, umas sobre as outras, acarretou o desmanche dos pacotes. O resultado é uma maçaroca de processos misturados e sem nenhum cuidado arquivístico.

O problema é que, longe de serem processos sem uso, os documentos são --todo o tempo-- requisitados pelas Justiças estadual e federal, que expedem mandados de segurança, de busca e apreensão, autorizam recursos e revisões de aposentadorias.

Isso sem contar checagens em auditorias internas (o casarão também reúne documentos de perícia médica, arrecadação e fiscalização).

'INSALUBRÍSSIMO'

"Informo que documentos mantidos naquele local se encontram amontoados e misturados, rasgados e roídos, motivos pelos quais não consigo, de forma alguma, localizá-los", relatava em memorando interno o funcionário C.A.T., em 2005.

Toda semana, C.A.T. tinha cerca de cem pedidos de arquivamento e desarquivamento. Ele reclamava do trabalho "desumano", "muito perigoso", "insalubríssimo", "repleto de ratos, lagartixas, aranhas, pulgas, mosquitos".

No mesmo relatório, C.A.T. relatava que o imóvel havia sofrido tentativa de invasão por desconhecidos, interessados em vender os papéis para reciclagem.

Em 2009, o mesmo funcionário elaborou novo relatório, desta vez para dar ciência à chefia do INSS em Osasco de que uma forte chuva havia danificado os arquivos. "[O casarão] continua insalubríssimo", escreveu. No relatório, C.A.T. afirma que o casarão abrigava "4.000 caixas, ou 300 mil processos". "Não são 300 mil processos burocráticos. São 300 mil vidas que estão ameaçadas em seus direitos", diz Decares.

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