Mary Zaidan |
É tiro e queda. Basta a presidente Dilma Rousseff aparecer
bem no filme para que o ex apronte das suas, na tentativa de roubar os holofotes
para si.
Possivelmente não o faz de propósito. É uma espécie de doença, vício,
algo incontrolável. E aí não importa se auxilia ou prejudica a sua pupila, se
lhe ofusca o brilho.
Nada tem a ver com afastamento entre criador e criatura, algo que não passa
pela cabeça nem da atual nem do ex. Pertence ao universo do egocentrismo, da
vaidade pura. Lula tem porque tem de estar em primeiro plano. Há muito se
convenceu de que é o escolhido. Fez pactos com o diabo, mas se vê como
messias.
Ainda que impulsionada pela mídia, nos últimos dias Dilma Rousseff promoveu
os primeiros movimentos dignos de aplausos ao iniciar a desratização do
Ministério dos Transportes.
Tudo que Dilma não precisava era de um Lula defendendo o retorno de gente do
PR ao primeiro escalão do governo, como se presidente fosse. “Se as pessoas não
forem culpadas, estiverem inocentes, você separa o joio do trigo e aqueles que
não forem culpados podem voltar.”
Joio semeado por Lula, em 2003, que nada mais fez pelo cultivo. Ou porque não
quis ou porque ali não se plantou trigo, só joio mesmo.
Não é a primeira e seguramente não será a última vez que Lula se enrola em
citações bíblicas. Em outubro de 2009, criou confusão ao dizer que se Jesus
viesse para cá teria de chamar Judas para fazer coalizão. Queria com isso
defender as alianças espúrias que fechara. As mesmas que deixou como herança
para a sua sucessora.
Na semana que passou, antes do joio e trigo do Evangelho de São Mateus, Lula
já havia desancado com o Novo Testamento. Na Bahia, no seu melhor estilo
palanqueiro, chamou de bobagem a promessa do reino dos céus para os pobres, e de
slogan os escritos de São Lucas. “O rico já está no céu. Porque um cara que
levanta de manhã todo dia, come do bom e do melhor, viaja para onde quer, janta
do bom e do melhor, passeia, esse já está no céu”, disse, sem se dar conta de
que acabara de retratar a si próprio.
As interpretações rasteiras que Lula faz das parábolas têm pouca importância.
São apenas mais um de seus hábeis truques de manipulação da audiência. Por trás
delas está a insistência no jogo maniqueísta, o incentivo aos antagonismos, ao
eles versus nós, ao Fla x Flu que tantos frutos renderam nos últimos anos.
Lula fala para os pobres como se pobre fosse. Ilude os que lhe dão ouvidos.
Comete todo e qualquer pecado para manter sua corte e garantir seu trono no
reino da terra.
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