sexta-feira, 24 de junho de 2022

Ouça áudio em que Milton Ribeiro relata conversa com Bolsonaro: 'Ele acha que vão fazer busca e apreensão'



A conversa entre Ribeiro e sua filha ocorreu no dia 9 de junho, portanto 13 dias antes da operação da Polícia Federal que prendeu o ex-ministro e mais quatro pessoas investigadas no caso.

Por causa desse diálogo, o Ministério Público Federal apontou suspeitas de vazamento e de interferência indevida de Bolsonaro no inquérito, solicitando a remessa do caso ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Veja um dos trechos da conversa:

Milton: — Hoje o presidente me ligou. Ele tá com pressentimento novamente de que eles podem querer atingi-lo através de mim. É que eu tenho mandado versículos pra ele né.

Filha: — Ele quer que você pare de mandar mensagem?

Milton: — Não, que é isso. Ele acha que vão fazer uma busca e apreensão em casa... Bom, isso pode acontecer né, se houver indícios.

A defesa do ex-ministro nega qualquer irregularidade e diz que a prisão não tinha justificativa, porque ele não exercia mais influência no governo federal e tem bons antecedentes criminais. O advogado Daniel Bialski também vê nulidades nos áudios sobre suposta interferência de Bolsonaro. Segundo ele, a Justiça de primeira instância não tinha competência para autorizar a operação se o caso envolvia suspeitas sobre o presidente, que é uma autoridade com foro privilegiado.

Em outro momento, a filha avisa a Milton Ribeiro que aquele telefonema entre eles estava sendo feito em ligação normal. Para os investigadores, esse aviso foi feito para evitar serem grampeados. Ao ser informado, o ex-ministro pede então para conversarem depois sobre o tema da investigação.

Filha: — Não, pai, essa voz não é definitiva. Eu não sei se ele tem alguma informação. Eu tô te ligando no celular normal viu pai.

Milton: — Ah é? Ah então depois a gente fala então, tá.

Na quinta, o delegado do caso, Bruno Calandrini, havia escrito uma mensagem a colegas dizendo que houve interferência da cúpula da PF para que Milton Ribeiro, após sua prisão, não fosse transferido para a carceragem da PF no Distrito Federal. Ele, entretanto, não citava nenhuma autoridade responsável por essa suposta interferência.

Com isso, caberá ao STF e à Procuradoria-Geral da República (PGR) analisar as provas para avaliar se a investigação deverá permanecer no Supremo ou se volta à primeira instância.

Em nota, a defesa de Ribeiro afirmou que recebeu "com surpresa" a decisão de remessa ao STF. O advogado Daniel Bialski argumenta que as citações a Bolsonaro foram encontradas nos autos antes da deflagração da operação da quarta-feira e, por isso, todos os atos e decisões do juiz deveriam ser nulos. "A defesa ainda analisará tudo e o todo que foi anexado aos autos, se lhe for franqueada vista da íntegra da documentação. Todavia, se realmente esse fato se comprovar, atos e decisões tomadas são nulos por absoluta incompetência e somente reforça a avaliação de que estamos diante de ativismo judicial e, quiçá, abuso de autoridade, o que precisará também ser objeto de acurada análise", escreveu.

Ouça aqui: No G1 áudio

Em O Globo

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