sábado, 15 de agosto de 2015

Voz de Lula em grampo é prenúncio do imponderável que emana da Lava Jato



Quando parece que Dilma teve sua melhor semana desde a posse —o Renan de volta ao seio governista, o TCU azeitado, a cassação no TSE adiada, as asas do Cunha podadas pelo STF, o Janot reconduzido, o Temer quieto, a foto com os movimentos sociais tirada, o vilão Murilo morto na novela das nove— a voz do Lula soa num gampo da Polícia Federal conversando com Alexandrino Alencar, lobista da Odebrecht preso na Lava Jato.

Isso vem se arrastando desde a época da campanha. Dilma vive sob os efeitos da síndrome do que está por vir. De raro em raro, ela pensa: “Hoje, finalmente, vou poder dormir mais tranquila.” E não pode. Tem que se preocupar com a Lava Jato. O ministro Jaques Wagner (Defesa) foi quem melhor traduziu o drama. “A gente dorme e acorda sempre com uma notícia dessas”, disse, ao comentar a prisão do correligionário José Dirceu.

Em relatório divulgado pelo Estadão, a Polícia Federal informa ao juiz Sérgio Moro que Lula revelou-se preocupado com “assuntos do BNDES” na sua conversa com o lobista Alexandrino (leia trecho do documento abaixo). Preocupação justificável. O Núcleo de Combate à Corrupção da Procuradoria da República no Distrito Federal investiga se o ex-presidente traficou influência no exterior para que a Odebrecht obtivesse obras com o financiamento do velho e bom BNDES. Alexandrino é personagem da investigação. Escalado pela empreiteira, ele tornou-se um assíduo companheiro de viagem de Lula. Viraram amigos.

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Lula tocou o telefone para Alexandrino às 20h06 do último dia 15 de junho (Leia a transcrição do diálogo no rodapé). Por mal dos pecados, quatro dias depois de conversar com o morubixaba do PT, o lobista foi preso por ordem do juiz da Lava jato. Nada a ver com seu companheiro de viagens. Sérgio Moro anotou no mandado de prisão: “Além das provas em geral do envolvimento da Odebrecht no esquema criminoso de cartel, ajuste de licitações e de propina, há prova material de proximidade entre [o doleiro] Alberto Youssef e Alexandrino Alencar.”

A PF não bisbilhotou Lula. O ex-presidente caiu no grampo porque ligou para Alexandrino, que se encontrava sob escuta. Falaram sobre um seminário promovido pelo jornal Valor. Lero vai, lero vem trataram do que a PF chamou em seu relatório de “polêmicos financiamentos do BNDES às empreiteiras brasileiras, incluindo a Odebrecht.” Afora a apuração em curso na Procuradoria do DF, a Câmara acaba de inaugurar uma CPI do BNDES. Uma das metas da oposição é tentar convocar Lula.

Embora não admitam em público, também os integrantes da força-tarefa da Lava Jato perscrutam as pegadas de Lula. A pedido de Dilma, ministros petistas sondaram o ex-presidente sobre a hipótese de ele tornar-se ministro. Abrigado na Esplanada, Lula ganharia foro privilegiado. E ficaria fora do alcance do doutor Moro. Por ora, Lula não topou. E a inquietação em Brasília só aumenta. No Planalto, já se ouve “Sabe a última do Sérgio Moro?” com a mesma frequência com que se ouve “Sabe a última do PMDB?”

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