quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Uma casa de aspirantes à condenação


Plenário da Câmara nesta terça-feira (Foto: Ailton de Freitas / Agência O Globo)

Ricardo Noblat

À Dora Kramer, colunista política do jornal O Estado de S. Paulo, Eduardo Cunha, às vésperas de ser denunciado pelo Procurador Geral da República, antecipou como se sentia e como deverá se comportar.

- Não vou me sentir constrangido. A denúncia não significa condenação e, mesmo sendo aceita, no caso de me tornar réu, não serei o único.

No momento, há na Câmara 166 deputados alvo de inquéritos e 36 réus em processos que tramitam no Supremo Tribunal Federal.

Eduardo imagina que 166 é o número mínimo de votos que terá caso prospere na Câmara um processo de cassação do seu mandato.

É o que ele enxerga. Ou é o que ele gostaria de enxergar.

De todo modo, não será fácil abrir um processo contra ele. Eduardo conta com maioria de votos pelo menos na Mesa da Câmara sob seu comando e no Conselho de Ética.

As duas instâncias teriam que ser consultadas antes de o plenário ser convocado para votar uma eventual cassação.

Ele atribui ao governo e ao PT a enrascada em que está metido:

- Não me suportam nem se conformam com o fato de eu tê-los derrotado na disputa pelo comando da Casa. Além disso, puseram na cabeça que eu estou querendo provocar o impeachment para o Michel (Temer) assumir o lugar da Dilma.

Recentemente, Eduardo reuniu-se sigilosamente com líderes da oposição e quis saber se eles ainda o apoiariam caso fosse denunciado pelo procurador geral da República.

A resposta foi positiva. O sonho da oposição de derrubar Dilma passava originalmente pela disposição de Eduardo de abrir um processo de impeachment contra ela.

Dada à sensibilidade da oposição aos humores das ruas, Eduardo não deve descartar a hipótese de ser abandonado por ela.

Afinal, a oposição será confrontada por uma opinião pública cada vez mais revoltada com a corrupção e os políticos em geral.

“O governo me superestima, não enxerga as coisas como elas são. Acha que eu comando a Casa quando, na verdade, eu faço é a vontade da Casa”, disse Eduardo a Dora. “O governo não tem maioria e, portanto, perde. Se tivesse ganharia. Simples assim.”

O que vale para o governo valerá para ele, que verá seu poder se desidratar.

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