Morreu o cinegrafista Santiago Ilídio Andrade, 49 anos. Trata-se daquele profissional que foi atingido na cabeça por um rojão vadio enquanto tentava filmar a enésima erupção de fúria da “minoria de vândalos” que se infiltra nas “manifestações pacíficas” para transformá-las em surtos de desordem. Eles finalmente obtiveram seu primeiro grande feito. Já dispõem de um cadáver.
Com seus protestos de inspiração anarquista, a estudantada de músculos inflados, de cara coberta e de índole violenta ainda não produziu a derrocada do capitalismo. Mas talvez consiga revolucionar a semântica dos protestos. As palavras agora devem ganhar novo sentido. “Minoria de vândalos”? É muito pouco! Black Blocs? O escambau! Eles são bandidos.
Supremo paradoxo: exaltados pela mídia do tipo Ninja como inimigos da ordem burguesa e das grandes corporações, os criminosos bem-nascidos levaram ao túmulo um trabalhador. E graças às irmagens captadas pelas lentes da velha mídia os selvagens mascarados que manusearam o rojão ganharam uma visibilidade que, por hedionda, desafia a ineficiência da polícia.
De repente, descobriu-se que as pessoas que investem contra policiais e jornalistas, incendeiam carros de emissoras de tevê, depredam estações de metrô, atacam agências bancárias, destroem caixas eletrônicos, estilhaçam vitrines de lojas, lançam coqueteis molotov em prédios públicos, matam cinegrafista… essas pessoas não têm uma sensibilidade à altura das suas realizações. Ou, se têm, não conseguem expressá-la.
Quando pilhados, os bandidos fogem. Se apanhados, eles silenciam. Se falam, não dizem coisa com coisa. Os bandidos não têm a capacidade de refletir sobre os efeitos de suas ações. Eles são criminosos justamente porque não são pensadores. Se pensassem a respeito, não cometeriam os crimes. O forte da facção de preto é o tórax, não o cérebro. Eles invadem o Código Penal porque não sabem fazer frases. Se soubessem, talvez fizessem cartazes, não cadáveres. Quem tem dois neurônios e sabe fazer frases deve chamá-los de bandidos. Sob pena de a democracia deixar de fazer sentido.
Por Josias de Souza
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