Luis Felipe Pondé |
Não sou religioso, só frequento templos vazios. Tampouco considero o ateísmo prova de maior inteligência ou coragem intelectual. Dias atrás, nesta coluna, ataquei as dimensões picaretas das religiões.
Por que digo isso? Porque hoje em dia, em épocas de exigências de pureza ideológica (no mundo da cultura vivemos um fascismo descarado dos bonzinhos, baseado em difamação de quem não frequenta as ideias que eles frequentam), se faz necessário apresentar algumas "credenciais" quando se vai tratar de um assunto delicado que pode ofender a sensibilidade totalitária dos bonzinhos. Quando ofendidos, os bonzinhos passam à gritaria, principalmente nessa masmorra escura que são as redes sociais.
Apesar de não ser religioso, conheço o suficiente de algumas religiões para saber que muitas delas carregam um saber de valor inestimável, fato este que escapa a muitos dos críticos banais das religiões. Você identifica um ignorante quando ele diz que a Bíblia é um livro opressor.
Dito isso, vamos ao que interessa. Há alguns anos, um cartunista dinamarquês passou por poucas e boas quando fez piadas com Maomé. Lembro-me de muitos dos bonzinhos defenderem o direito dos muçulmanos de se ofenderem com a piada e jogarem a atitude do cartunista no saco indiferenciado do preconceito ocidental contra o Islã.
Fico feliz que no Brasil ainda se possa fazer humor com as religiões e que quem faz piada com Jesus (que acho um cabra-macho, mas não acho que seja Deus) possa fazê-lo, ganhar dinheiro com isso e não ser ameaçado de morte. Ou, quem sabe, perder o emprego. Pedir a cabeça de alguém é um pedido comum dos bonzinhos quando leem algo com que não concordam.
Acho que o humor deve ser livre porque ele é uma das dimensões por meio das quais o espírito humano sobrevive, se alimenta e reflete sobre sua condição. Não partilho da ideia de que o humor seja uma forma menor de cultura. Por isso, discordo da tentativa de qualquer grupo, religioso ou não, de querer barrar ou processar quem quer que seja por ter feito piada do que for.
Mas me pergunto uma coisa: por que alguns acham politicamente incorreto fazer piadas com negros, índios, gays e nordestinos (e julgam justificados processos legais contra quem faz tal tipo de piada), mas julgam correto fazer piada com os ícones do cristianismo?
Claro, quem pratica esse tipo de critério, com dois pesos e duas medidas, é gente boazinha e com opiniões corretas. Defendem a própria liberdade, mas negam imediatamente a liberdade de quem os aborrece. O nome disso é incoerência. A democracia só vale para quem nos irrita, mas os bonzinhos não pensam assim.
Não me surpreende a incoerência dos bonzinhos, porque o que faz alguém ser bonzinho hoje é a falta de caráter. Ser do "partido dos bonzinhos" hoje dá dinheiro, ganha editais, cargos no governo, fotos em colunas sociais, convites e prêmios culturais. Identificar um bonzinho hoje em dia como resistente ao poder é uma piada e tanto! Eles estão no poder até no RH das empresas e na magistratura.
Os cristãos têm todo o direito de ficar bravos com as piadas com Jesus (que aliás, costumam ser ótimas). Mas, acho "engraçado" (já que estamos falando de humor) alguém não perceber que vivemos num mundo em que tirar sarro de cristão pode, mas de outros grupos não. Por quê?
Fácil: porque ninguém precisa ter "cojones" para tirar sarro de cristão. No mundo da cultura, falar mal de religião (menos da indígena, afro e budista) é bater em bêbado na ladeira.
Proposta: que tal tirar sarro das pautas dos bonzinhos? Tipo fazer piada com as "jornadas de junho". Ou da moçadinha que quer salvar o Ártico. Ou de gente que vive falando mal da polícia, mas treme de medo e chama a polícia logo que sente sua propriedade privada em risco. Ou do movimento estudantil. Ou de intelectual que glamoriza os "rolezinhos". Ou das feministas. Ou de ateus militantes. Ou do exército da salvação PSOL e PSTU. Ou de quem diz que bandidos são vítimas sociais.
É isso aí: que tal fazer piadas com os preconceitos dos bonzinhos? Missão impossível?
Por Luis Felipe Pondé
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