Sabe-se pouco sobre a função biológica dos pelos no rosto dos homens públicos. A opinião convencional é que eles têm finalidade apenas estética. Dependendo da pessoa, nascem ou caem em maior ou menor volume. Ficam brancos com a idade. Mas pode haver uma ligação da barba, do cabelo e do bigode com alguma insuspeitada função cerebral. Não faltam indícios preocupantes.
Orientado por Duda Mendonça, Lula podou a barba de sindicalista na campanha presidencial de 2002. Após três derrotas, tornou-se presidente naquele ano. Prevaleceu sobre o tucano careca José Serra. Mas ficou cego. Não viu o mensalão passar diante do seu nariz. Nesta segunda-feira, Lula ressurgiu em Brasília com a barba que o abandonara depois do tratamento contra o câncer. Ela não é mais a mesma. Voltou menos farta. Mas deixou Lula mais parecido com Lula. Com todos os efeitos colaterais que isso pode acarretar.
Simultaneamente, um novo Delúbio Soares cruzou o portão do presídio da Papuda. Ciente dos perigos que os pelos faciais representam para o PT, o ex-gestor das arcas clandestinas da legenda exibiu-se às lentes de cara quase limpa. Passou a barba na lâmina. Só poupou o bigode. Foi como se desejasse provar ao país que aquele barbudo que previra que o mensalão terminaria em piada de salão não existe mais. Foi substituído por um sujeito muito parecido com um bandoleiro de filme mexicano.
Lula e sua barba rala, de consequências ainda imprevisíveis, reuniram-se com Dilma Rousseff. Analisaram a reforma ministerial e apertaram os parafusos da campanha de 2014. Delúbio e seu bigode solitário foram ao primeiro dia de “trabalho” nos escritórios brasilienses da CUT. O país talvez não tenha se dado conta, mas está testemunhando o desconhecido.
Pense nos efeitos do implante de cabelos do Renan Calheiros. A simples decisão de fincar no cocoruto 10.118 fios fez o senador levitar. Tirou os pés do chão —e da realidade— a bordo de um jato da FAB. Depois, avisado de que não ficava bem levar a cabeça às nuvens com verba pública, mandou devolver o dinheiro do querosene.
Responsável pelo implante, o doutor Fernando Basto informa que os primeiros fios brotarão da calva de Renan em meados de março. Só lá para outubro, mês da eleição, a cabeleira terá crescido a ponto de alterar a imagem do imponderável refletida no espelho. O que será do Senado até lá? Os precedentes não são animadores!
José Dirceu também implantou cabelos. Fez isso com o mesmo doutor Fernando Basto. Meses depois, foi visto na frente da superintendência da PF em São Paulo com o braço levantado e o punho fechado, à moda dos velhos comunistas. Trancafiado numa cela da Papuda, Dirceu autoproclamou-se “preso político”. Os estragos provocados na história da República pelo vaivém dos pelos na cara dos políticos talvez só sejam conhecidos em toda sua extensão quando for tarde demais.
Por Josias de Souza
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