sábado, 4 de janeiro de 2014

Fogo e paixão


Nelson Motta
Para o bem e para o mal, Copa do Mundo e eleições gerais são grandes eventos movidos a paixão, que, por cega e surda, não costuma ser boa conselheira, embora quase sempre fale mais alto do que a razão. Mas é ela que faz andar o mundo, aos trancos e barrancos, inevitavelmente para a frente, mas não necessariamente para o alto. Sem paixão, diria Nelson Rodrigues, não dá para chupar um chicabom.

Ninguém vai nos perguntar, como os audazes pilotos de bugre que levam turistas para passear pelas dunas de Natal, acelerando o motor do seu jegue mecânico: “Quer com emoção ou sem emoção?” O Ano Novo não oferece essa escolha, muito trabalho, dinheiro e propaganda serão investidos para botar mais fogo na paixão — e colher seus frutos.

Torcedor, como o próprio nome diz, torce. Torce a realidade, a evidência, a ética e a ótica, movido por uma emoção incontrolável, em que a voz e a ação antecedem o pensamento. Como numa metáfora de batalha sem mortos nem feridos, os guerreiros da bola despertam, com seus pés e suas cabeças, e, sim, com sua paixão e entrega, os melhores, e piores, sentimentos do torcedor. Em um lance do acaso, numa bola que rola, o herói vira vilão, ou vice-versa.

Da mesma forma, o militante milita, como um militar, cumpre missões, repete slogans e palavras de ordem, mas hoje é movido mais por dinheiro do que por paixão. Assim como as Forças Armadas e as torcidas organizadas, os militantes também se profissionalizaram, trabalham nas ruas e na internet, ganham salários para promover seus candidatos e destruir adversários, mas cada vez mais pregam para convertidos e mobilizam cada vez menos a emoção do eleitorado.

Na guerra política, a estratégia dos marqueteiros, mais do que oferecer números, argumentos e promessas, será para despertar a emoção do eleitor, que, movido pela razão, quer mudanças: no governo, ou de governo. Mas, assim como o futebol, a política é uma caixinha (dois, por supuesto ) de surpresas. Um passo em falso, uma fala infeliz, uma denúncia anônima podem virar o jogo a qualquer momento e ganhar ou perder o eleitor.

Haja coração. E um mínimo de razão.

Nelson Motta é jornalista.

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