Deputado de primeiro mandato, o ex-jogador Romário (PSB-RJ) cultiva em relação ao seu local de trabalho uma opinião com aparência de lugar-comum. “No Congresso, a maioria é do mal… A maioria é contrária ao que o povo precisa”, afirma, repetindo o que o eleitorado não se cansa de dizer.
A despeito da má impressão, Romário parece ter desenvolvido técnicas de alheamento. Em entrevista à repórter Carolina Benevides, revelou-se familiarizado com as mumunhas da política. Para driblar a realidade, engole sapos sem ter indigestão. E não entra em qualquer bola dividida.
“Aprendi a ser político. Aprendi a ouvir coisas que não vão beneficiar o povo e a ter que engolir. Voto no que acredito. Mas aqui [no Congresso], o mal prevalece. Compro as brigas que acho que devo comprar, mesmo sabendo que vou perder.”
Como nos gramados, Romário busca na pauta da Câmara o melhor posicionamento. “Político só anda se tiver bandeiras, mas não adianta ter 50. Tem que ter foco no que vai fazer.”
No começo do mandato, era deputado de jogada única: “Cheguei com uma bandeira, a dos deficientes”. Com o tempo, desenvolveu outros lances: “Agora são cinco: combate ao crack, deficientes, Hip Hop, doenças raras e a fiscalização combativa dos gastos com a Copa.”
Como parlamentar, Romário não tem a eficiência que exibia na grande área: “Sobre a Lei da Copa, eu gostaria que alguns artigos não tivessem sido aprovados, que os gastos não fossem absurdos e fora da realidade do país.” Mas mesmo quando não faz gol ele acena para a arquibancada: no Congresso “tem muito mais interesse de lobby do que do povo.”
Como se vê, a despeito do pouco tempo de política, Romário conhece profundamente a causa pública e a natureza humana. Usufrui na sua plenitude o gozo das pequenas provações. E sofre na própria pele as insuportáveis vantagens. Com 42 anos de mandato, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), hoje o deputado mais antigo da Casa, não quis comentar as declarações do colega Romário: “Não merece resposta”, limitou-se a dizer.
Josias de Souza
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