domingo, 20 de outubro de 2013

STF abriga na sua folha salarial um condenado



O Supremo Tribunal Federal acolhe na sua folha de salários uma evidência de impunidade. Chama-se Ítalo Colares de Araújo. Ex-gerente da Caixa Econômica, carrega sobre os ombros um par de condenações por desviar para contas de familiares R$ 3 milhões em verbas do FGTS. Pegou 7 anos de prisão por peculato e 14 anos de cadeia por lavagem de dinheiro.

Deve-se a revelação ao repórter Vinicius Sassine. Ele conta que a última condenação imposta a Ítalo é de 2009. Desde então, a Justiça tenta encontrar o condenado para intimá-lo a cumprir a pena. O diabo é que Ítalo enfiou endereços falsos dentro dos autos. Por isso, jamais foi achado. Esconde-se, ironia suprema, na Praça dos Três Poderes, em Brasília.

Ítalo dá expediente (a)normalmente na Seção de Recebimento e Distribuição de Recursos do STF. Ingressou no tribunal após ser aprovado em concurso público para técnico judiciário. Deu-se em 2000, um ano depois de ter sido demitido da Caixa Econômica por conta dos desvios que praticara no FGTS.

Em novo concurso, prestado em 2003, Ítalo foi promovido a analista judiciário. Hoje, recebe contracheque mensal de R$ 11,3 mil. Já bateu ponto até na presidência do Supremo, na gestão do ex-ministro Maurício Corrêa, morto no ano passado. Passou também pelos gabinetes do ex-ministro Eros Grau e de Marco Aurélio Mello.

Mais recentemente, Ítalo foi convidado a prestar serviços no gabinete de Teori Zavascki, penúltimo ministro a ser indicado por Dilma Rousseff. Refugou o convite, segundo ele próprio conta, para evitar constrangimentos. Sobre os desvios, Ítalo declara: “Meu erro foi corrupção passiva. Era muito novo, errei, envolvi a minha família. Mas não houve peculato, não houve desvio de dinheiro público.”

A pena de 7 anos por peculato é de 2000. O condenado recorreu ao TRF-1, sediado em Brasília. O processo permaneceu na gaveta até prescrever. A sentença de 14 anos por lavagem de dinheiro é de 2009. Como Ítalo vem logrando driblar o Judiciário escondendo-se atrás de endereços falsos, jamais foi cumprida.

Os bens de Ítalo encontram-se bloqueados. Mas o dinheiro desviado nunca retornou às arcas do FGTS. Correm contra o ainda servidor do STF uma ação por improbidade e oito processos de execução de dívida originários de decisões do TCU, que também atestou os desvios. De resto, como não pagou imposto, Ítalo responde por crime contra a ordem tributária. E continua dando expediente no Supremo.

A presença de Ítalo na folha da Suprema Corte faz dele o protagonista de uma história fantástica passada num país inacreditável. Uma história bem brasileira.

Josias de Souza

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