A Praça dos Três Poderes, usualmente um cenário de pompa ou protestos, vivia uma manhã estranhamente pacata. Brasília, aquela cidade planejada para ser organizada, parecia apenas suspirar, como se o concreto estivesse cansado de tanta confusão. Mas, como todo bom brasileiro sabe, calmaria demais é sinal de que algo incomum está para acontecer.
E lá estavam eles, como em um roteiro que ninguém escreveu, mas que todos adorariam assistir: Lula, Bolsonaro e suas respectivas companheiras, casualmente, lado a lado. Era como se o destino tivesse decidido colocar dois polos magnéticos para uma reunião de condomínio sem pauta.
Lula, trajando sua camisa social amassada que insiste em não combinar com a gravata de sindicato, gesticulava enquanto Janja resmungava algo ao seu lado. "Companheiro, eu não tô brincando. Quando é que você vai oficializar o meu cargo? Ministra Informal Para Assuntos Aleatórios já virou piada na internet! Ou Ministra Agregada da Economia e Assuntos Diversos, não seria menos sujeito a memes?"
Lula suspirou, um misto de cansaço e sagacidade: "Ô, Janja, tu sabe que eu te ouço mais do que ouvia o Mantega. Já é quase um ministério, ué!" Mas Janja não parecia convencida. "Quase não paga o cabeleireiro, Luiz Inácio!"
Do outro lado, Michele Bolsonaro, com um blazer impecável que parecia recém-saído da passadeira, suspirava de maneira teatral. "Jair, você tem que apoiar a minha candidatura, em vez de contar com outro candidato a presidente e o Eduardo Bolsonaro para vice. Presidente Michele soa muito melhor para os nossos seguidores, diga-se de passagem.” Seria uma bênção divina, como ela concluiu, com um sorrisinho sereno, "Eu já fui chamada para missões maiores, Jair."
Bolsonaro, de chinelos e com uma camiseta com os dizeres "Minha Arma, Minhas Regras", só mexeu os ombros. "Michelle, o sistema tá contra mim, você sabe disso. Mas você... você é mulher, é evangélica, e eu já tô inelegível mesmo. Se for pra seguir o plano — o superior, não esse terreno —, é contigo, não comigo! Talquei?"
"ô! E a Wal do Açaí? Vai fazer campanha comigo?" rebateu Michele, cruzando os braços. Jair deu aquele sorriso sem graça, que costumava fazer quando as perguntas no cercadinho eram embaraçosas. "Tudo no seu tempo, Micheque. Tudo no seu tempo. Talquei?"
Enquanto isso, os dois líderes se encararam por um momento, ambos cientes de que as esposas travavam ali uma espécie de batalha paralela. Lula sorriu primeiro, aquele sorriso de "gente boa" que ele aperfeiçoou em décadas de palanque. "Mito, olha só. Não somos tão diferentes, hein?"
Bolsonaro franziu a testa, confuso. "Como assim, pô?"
"As duas querem cargos que a gente nem imaginava que elas seriam capazes de cogitar. É mole?" Lula deu uma gargalhada, e por um segundo, até Jair esboçou um sorriso, aquele sorriso de "não acredito que concordei com esse cara".
O Sol continuava brilhando sobre a praça, e alguns poucos turistas que passavam tiravam fotos daquele encontro inusitado. Um garoto gritou: “Mãe, estão gravando um filme da Netflix?” E talvez fosse mesmo, mas sem final previsível.
No fim, a Terra não chegou a parar, mas ficou claro que, quando duas forças tão opostas se encontram, a gravidade das ironias e lamentos pessoais pesa muito mais do que qualquer teoria política. E assim, enquanto as esposas planejavam seus próximos passos, os dois antagonistas caminhavam para lados opostos, cada qual carregando seus próprios pesos e dilemas.
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Lula e Bolsonaro no dia que a Terra quase parou
A Praça dos Três Poderes, usualmente um cenário de pompa ou protestos, vivia uma manhã estranhamente pacata. Brasília, aquela cidade planejada para ser organizada, parecia apenas suspirar, como se o concreto estivesse cansado de tanta confusão. Mas, como todo bom brasileiro sabe, calmaria demais é sinal de que algo incomum está para acontecer.
E lá estavam eles, como em um roteiro que ninguém escreveu, mas que todos adorariam assistir: Lula, Bolsonaro e suas respectivas companheiras, casualmente, lado a lado. Era como se o destino tivesse decidido colocar dois polos magnéticos para uma reunião de condomínio sem pauta.
Lula, trajando sua camisa social amassada que insiste em não combinar com a gravata de sindicato, gesticulava enquanto Janja resmungava algo ao seu lado. "Companheiro, eu não tô brincando. Quando é que você vai oficializar o meu cargo? Ministra Informal Para Assuntos Aleatórios já virou piada na internet! Ou Ministra Agregada da Economia e Assuntos Diversos, não seria menos sujeito a memes?"
Lula suspirou, um misto de cansaço e sagacidade: "Ô, Janja, tu sabe que eu te ouço mais do que ouvia o Mantega. Já é quase um ministério, ué!" Mas Janja não parecia convencida. "Quase não paga o cabeleireiro, Luiz Inácio!"
Do outro lado, Michele Bolsonaro, com um blazer impecável que parecia recém-saído da passadeira, suspirava de maneira teatral. "Jair, você tem que apoiar a minha candidatura, em vez de contar com outro candidato a presidente e o Eduardo Bolsonaro para vice. Presidente Michele soa muito melhor para os nossos seguidores, diga-se de passagem.” Seria uma bênção divina, como ela concluiu, com um sorrisinho sereno, "Eu já fui chamada para missões maiores, Jair."
Bolsonaro, de chinelos e com uma camiseta com os dizeres "Minha Arma, Minhas Regras", só mexeu os ombros. "Michelle, o sistema tá contra mim, você sabe disso. Mas você... você é mulher, é evangélica, e eu já tô inelegível mesmo. Se for pra seguir o plano — o superior, não esse terreno —, é contigo, não comigo! Talquei?"
"ô! E a Wal do Açaí? Vai fazer campanha comigo?" rebateu Michele, cruzando os braços. Jair deu aquele sorriso sem graça, que costumava fazer quando as perguntas no cercadinho eram embaraçosas. "Tudo no seu tempo, Micheque. Tudo no seu tempo. Talquei?"
Enquanto isso, os dois líderes se encararam por um momento, ambos cientes de que as esposas travavam ali uma espécie de batalha paralela. Lula sorriu primeiro, aquele sorriso de "gente boa" que ele aperfeiçoou em décadas de palanque. "Mito, olha só. Não somos tão diferentes, hein?"
Bolsonaro franziu a testa, confuso. "Como assim, pô?"
"As duas querem cargos que a gente nem imaginava que elas seriam capazes de cogitar. É mole?" Lula deu uma gargalhada, e por um segundo, até Jair esboçou um sorriso, aquele sorriso de "não acredito que concordei com esse cara".
O Sol continuava brilhando sobre a praça, e alguns poucos turistas que passavam tiravam fotos daquele encontro inusitado. Um garoto gritou: “Mãe, estão gravando um filme da Netflix?” E talvez fosse mesmo, mas sem final previsível.
No fim, a Terra não chegou a parar, mas ficou claro que, quando duas forças tão opostas se encontram, a gravidade das ironias e lamentos pessoais pesa muito mais do que qualquer teoria política. E assim, enquanto as esposas planejavam seus próximos passos, os dois antagonistas caminhavam para lados opostos, cada qual carregando seus próprios pesos e dilemas.
AHT
29/11/2024
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