O grito de guerra dos militantes ainda ecoa no Planalto Central. "Dirceu
guerreiro! Do povo brasileiro!", o refrão estremece o salão, como um canto de
torcida organizada no estádio ou o coro de um funk carioca num bailão.
Mas Dirceu é guerreiro modesto e discreto, nunca falou sobre as suas ações
revolucionárias, seus confrontos com as forças da repressão, suas batalhas de
arma na mão pelo povo brasileiro. Talvez para não humilhar companheiros que não
tiveram tanta bravura como ele na luta contra a ditadura, ou cometeram erros
estratégicos que levaram à prisão e à morte de companheiros. Ou talvez porque
nunca tenham acontecido. Quando lhe perguntam se matou alguém em combate, dá um
sorrisinho maroto e faz cara de mistério.
O guerreiro chama a presidente Dilma de "companheira de armas", mas embora
ela tenha pago na própria carne pela sua coragem revolucionária, não há qualquer
notícia, documento ou testemunha da presença de Dirceu, ou de "Daniel", seu nome
de guerra, em nenhuma ação armada durante a ditadura. Talvez a Comissão da
Verdade faça justiça à sua combatividade, ou desmascare o guerreiro que foi sem
nunca ter sido. Talvez algum dia reapareçam os disquetes com a sua biografia
escrita por Fernando Morais, em que ele dizia ter contado tudo sobre a sua vida
guerreira, mas foram misteriosamente roubados da sua trincheira.
Na Câmara, ele foi um incansável guerreiro, se recusando a assinar a
Constituição democrática de 88, batalhando pela rejeição da Lei de
Responsabilidade Fiscal e denunciando o Plano Real como uma farsa eleitoreira da
direita. Perdeu essas batalhas, mas não a sua guerra.
Notável estrategista, ele começou como um dos líderes estudantis que, em
1968, convocaram um congresso "secreto" da UNE em uma fazenda em Ibiúna, onde os
500 congressistas foram facilmente cercados pela polícia e pelo Exército e
presos, aniquilando o movimento estudantil. Em entrevista recente, Dirceu disse
que, mesmo cercado por centenas de policiais e soldados armados, "queria
resistir", mas foi voto vencido.
Com um guerreiro desses, o povo brasileiro não precisa de inimigos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário