Se uma nuvem de juízo baixasse de súbito na cabeça de Jair Bolsonaro, ele demitiria sumariamente aquele senhor que ocupa o cargo de ministro da Educação, Abraham Weintraub. Os estudantes e professores têm suas razões para protestar, concordemos ou não com elas, mas ninguém que tenha um mínimo de apreço pela realidade pode deixar de reconhecer: Weintraub é a grande antimusa inspiradora das manifestações críticas ao governo. O homem não deve bater bem dos pinos.
A manhã desta quinta raiou com um vídeo do ministro empunhando um guarda-chuva. Ele contestava uma informação publicada pela imprensa. Tentava ser engraçado. Só conseguiu ser ridículo. Volto a esse ponto daqui a pouco. Vamos ao que ele fez de não menos ridículo, mas também de perigoso para o governo que integra.
Os protestos desta quinta foram, sim, substantivos, embora não maiores do que os do dia 15. Isso não é relevante. Nota-se um núcleo que parece ser sólido de resistência. Ora, um ministro com um mínimo de sanidade mental faria o quê? Diria o óbvio: "Manifestações fazem parte da democracia; o governo discorda, mas respeita". Quem resolvesse ousar um pouco ainda poderia dizer — afinal, seria alguém crítico aos que estavam nas ruas, certo? "Todas as áreas do governo sofreram contingenciamento, e não vemos razões para os protestos". E pronto! Isso é o que faria alguém normal, que entendesse como funciona uma democracia.
Mas Weintraub é um homem que está, digamos, fora dos padrões. Ele preferiu emitir uma nota absurda, de caráter policialesco, que afronta, de saída, os Artigos 5º da Constituição, que garante o direito à liberdade de expressão, e o 207, que trata da autonomia universitária. Em vez de dispensar ao protesto um tratamento próprio da política, ele preferiu ver no caso um assunto de polícia. Achando que seria pouco ameaçar professores e estudantes, ele resolveu também apontar a suposta ilegalidade cometida por pais de alunos caso apoiassem a manifestação.
Diz a nota do MEC:
"O Ministério da Educação (MEC) esclarece que nenhuma instituição de ensino pública tem prerrogativa legal para incentivar movimentos político-partidários e promover a participação de alunos em manifestações. Com isso, professores, servidores, funcionários, alunos, pais e responsáveis não são autorizados a divulgar e estimular protestos durante o horário escolar. Caso a população identifique a promoção de eventos desse cunho, basta fazer a denúncia pela ouvidoria do MEC por meio do sistema e-Ouv. Vale ressaltar que os servidores públicos têm a obrigatoriedade de cumprir a carga horária de trabalho, conforme os regimes jurídicos federais e estaduais e podem ter o ponto cortado em caso de falta injustificada. Ou seja, os servidores não podem deixar de desempenhar suas atividades nas instituições de ensino para participarem desses movimentos. Cabe destacar também que a saída de estudantes, menores de idade, no período letivo precisa de permissão prévia de pais e/ou responsáveis e que estes devem estar de acordo com a atividade a ser realizada fora do ambiente escolar."
Weintraub é um irresponsável. Servidores faltaram ao trabalho? Que se aponte a ausência e se cumpra o rito legal. Sem papo-furado. Quem vai decidir o que é o que não é "político-partidário" nas escolas? Ademais, só um energúmeno confunde o "político" com o "político-partidário", que são coisas distintas. Nas redes sociais, este gênio da raça estimulou denúncias contra professores que estariam apoiando as manifestações. Vale dizer: o ministro já garantiu o futuro dos próximos protestos.
Não é apenas perigoso politicamente. Também é um semianalfabeto diplomado. Aquele que já escreveu "insitar" — assim mesmo, com s — no Twitter mandou brasa em seu videozinho mambembe: "HAVIAM emendas parlamentares de 55 milhões para recuperar o museu." Ministro da Educação que fala "haviam emendas" mereceria ser chicoteado em praça pública. Como isso não seria legal, então que seja demitido.
A exemplo dos estudantes, Weintraub tem de ir para a rua. Mas de outro modo, é claro!
Por Reinaldo Azevedo
Nenhum comentário:
Postar um comentário