domingo, 19 de maio de 2019

Bolsonaro adota ‘tática petista’ e inquieta aliados



Aliados de Jair Bolsonaro no Congresso estão incomodados com a evolução das investigações que correm no Rio de Janeiro contra o senador Flávio Bolsonaro. Atribuem o incômodo a duas razões: 1) A incapacidade do presidente da República de se dissociar do drama do filho; 2) A semelhança entre a estratégia adotada pela família Bolsonaro e o que chamam de "tática petista". 

A exemplo do que fizeram Lula, Dilma e o petismo, Bolsonaro e seu filho atribuem as investigações a uma "perseguição política". Nessa versão, Flávio seria mero instrumento de uma cruzada para desgastar o governo do pai. Nas palavas de um parlamentar do PSL, "o prazo de validade desse tipo de discurso diminui depois que a Justiça autoriza a quebra dos sigilos fiscal e bancário dos investigados." 

A tese da "perseguição" soa ainda mais esdrúxula quando se verifica que Flávio não é um alvo solitário do Ministério Público. A investigação vai muito além do PSL. Alcança políticos do PT, do PDT e do PSC. 

Na comparação com o PT, Bolsonaro começa a ficar parecido com Lula, pois já esgrime em reuniões privadas o célebre bordão do "eu não sabia". O presidente alega que nem ele nem o filho tinham pleno conhecimento das atividades desenvolvidas por Queiroz no gabinete de Flávio, na época em que o agora senador dava expediente como deputado estadual no Rio. 

O que mais inquieta os apologistas de Bolsonaro é o receio de que o presidente permaneça grudado em Flávio não por solidariedade paterna, mas pela impossibilidade de se desvincular do filho. Recorda-se com pesar que o Coaf já detectou um repasse de R$ 24 mil do faz-tudo Queiroz para a conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro. 

Dissemina-se a impressão de que o efeito político do caso é automático e devastador. Flávio percorre os corredores do Congresso como uma espécie de parlamentar-zumbi. Legendas de oposição observam a conjuntura à espera do melhor momento para levá-lo a Conselho de Ética. Quanto a Jair Bolsonaro, já não pode enrolar-se na bandeira da ética com a mesma naturalidade exibida na campanha presidencial de 2018.

O caso já era grave quando se restringia à suspeita de apropriação indevida de pedaços dos contracheques de assessores de Flávio Bolsonaro. Subiu de patamar quando se descobriu que o filho mais velho do presidente tem apreço por milicianos. Agravou-se ainda mais com a suspeita de lavagem de dinheiro por meio da aquisição de imóveis e a quebra dos sigilos bancário e fiscal. 

Na definição do Ministério Público, funcionava no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio uma "organização criminosa". Aliados mais fieis a Bolsonaro alegam em defesa da família que, ainda que as acusações se revelem verdadeiras, o estrago será pequeno se comparado com o mensalão e o petrolão. 

O argumento é tosco. A transgressão é proporcional ao tamanho do cofre ao qual o transgressor tem acesso. A honestidade, de resto, é como a gravidez. Nenhuma mulher pode estar um pouquinho grávida, como não se pode ser um pouco honesto.

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