O presidente Jair Bolsonaro trabalha afincadamente para dar razão aos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso. Lula disse que este é um governo de malucos. Fernando Henrique, mais contido, que desse jeito não dá.
Não bastasse a quantidade de graves problemas que tem para enfrentar, Bolsonaro decidiu adicionar mais um à sua carregada agenda: dar trela a um doido varrido, no caso o autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, o guru dele e de sua família.
No ócio em que vive a milhares de quilômetros daqui, sustentado à distância por uma legião de devotos que pagam para ouvi-lo dizer qualquer idiotice, Olavo resolveu ocupar-se em jogar pedras no governo, mais precisamente nos militares que o integram.
O que ele pretende? Criar confusão, somente isso. Se der, valer-se da confusão para empregar no governo mais um dos seus discípulos. Talvez Carlos Bolsonaro no lugar do general que comanda a comunicação do governo. Ou outro nome qualquer.
E como reage Bolsonaro às pedras atiradas pelo ex-astrólogo, influenciador digital e doido de Richmond, capital do Estado americano de Virgínia? Mima-o. Faz-lhe todas as vênias. Há uma semana, concedeu-lhe a mais alta condecoração do Itamaraty.
O governo desmorona internamente por obra e graça do doido. Diante da inação de Bolsonaro, o general Villas Bôas, ex-comandante do Exército, lotado no Palácio do Planalto, sentiu-se obrigado a responder aos insultos de Olavo.
Fez mal. Se o doido não pode ser recolhido a um manicômio, devolver-lhe as imprecações lançadas é fazer o jogo dele. É tudo o que Olavo quer. Até porque como doido ele não respeita limites. E sempre será muito mais desbocado do que seus desafetos.
Há doidos suficientes em torno de Bolsonaro para que ele tenha de conviver com mais um. Ou não é doido o ministro que compara Bolsonaro a Jesus, ambos, segundo ele, pedras angulares? Ou não é doido o ministro que já viu Jesus no alto de uma goiabeira?
Não será um ato de insanidade cogitar uma viagem ao Texas para receber um prêmio que Nova Iorque recusou-se a entregar? Haverá ato mais insano do que reduzir verbas para Educação e ao mesmo tempo anunciar que o corte poupará os colégios militares?
Há neste governo ilhas de sanidades capazes de atuar melhor em ambiente de menos balbúrdia, mas até quando elas resistirão sem pedir as contas? Enquanto isso, o vice espera, vigia e ultimamente se finge de morto. Vice não é nada, mas pode um dia ser tudo.
Por Ricardo Noblat
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