sexta-feira, 3 de maio de 2019

BB e consulado brasileiro ajudam a pagar jantar para Bolsonaro nos EUA


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O Banco do Brasil (BB) e o consulado-geral do país em Nova York ajudaram a financiar a festa organizada em homenagem ao presidente Jair Bolsonaro pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, prevista para o dia 14.

O banco concordou em pagar US$ 12 mil (R$ 47,5 mil) para ter uma mesa com dez lugares no jantar de gala anual da entidade, cujo objetivo é arrecadar fundos para patrocinar interesses de empresas brasileiras e americanas nos Estados Unidos. 

É a primeira vez que o BB participa do evento como patrocinador. Embora seja sócio da câmara de comércio, o Banco do Brasil não esteve entre os apoiadores do jantar nos últimos anos, quando outras pessoas foram homenageadas.

O banco informou que apoia os eventos da câmara para “estreitar o seu relacionamento negocial com investidores institucionais e empresas” e disse que sua mesa no jantar de Bolsonaro será reservada para “clientes estratégicos”.

A Folha perguntou à assessoria de imprensa do BB se a decisão de patrocinar a homenagem ao presidente fora submetida à avaliação dele, mas o banco não respondeu.

Na semana passada, Bolsonaro mandou demitir o diretor de marketing do BB e suspender uma campanha publicitária que usava jovens, mulheres e negros para representar a diversidade da sociedade brasileira. “Essa não é a minha linha”, disse Bolsonaro a jornalistas, ao explicar o veto.

O consulado em Nova York, cuja função principal é prestar serviços a brasileiros que vivem nos EUA ou estão de passagem pela cidade, também não apareceu como patrocinador do jantar antes.

O Ministério das Relações Exteriores afirmou ter pago US$ 10 mil (R$ 39,6 mil) por sua mesa e que contribuiu para o evento em outros anos. Segundo o Itamaraty, a “importante parceria” mantida com a câmara ajuda na “promoção dos interesses econômicos e comerciais brasileiros”.

Por causa da homenagem a Bolsonaro, que foi escolhido como Pessoa do Ano pela entidade, o jantar tornou-se objeto de grande controvérsia e criou para a câmara de comércio embaraços com empresas e a elite nova-iorquina. 

O Museu Americano de História Natural desistiu de emprestar sua sede para o jantar após receber críticas da comunidade acadêmica. O prefeito de Nova York, Bill de Blasio, do Partido Democrata, disse que Bolsonaro não era bem vindo à cidade e o chamou de racista, homofóbico e destrutivo.

A companhia aérea Delta, a consultoria Bain & Company e o jornal Financial Times, que tinham topado apoiar a festa, recuaram no início desta semana. Ao explicar a decisão, a Bain disse à CNN que “celebrar a diversidade é um princípio essencial” da empresa.

Dos 57 patrocinadores do ano passado, 17 não apoiam a festa desta vez, de acordo com levantamento da Folha com base em informações publicadas pela câmara. Nesta quinta (2), a entidade tirou do ar a página em que identificava os apoiadores em seu site. 

O jantar de gala anual é o principal evento realizado para sustentar as atividades da câmara. Tradicionalmente, ela elege um brasileiro e um americano para o título de Pessoa do Ano —o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, também será homenageado.

O jantar deve arrecadar pouco mais de US$ 1 milhão (R$ 3,9 milhões), conforme estimativa feita pela Folha com base em valores das cotas de patrocínio de anos anteriores —as deste ano não foram divulgadas pelos organizadores.

Como nas outras vezes, mais da metade do dinheiro virá de bancos e gestores de fundos de investimento. Dos 53 patrocinadores divulgados pelo site da câmara até quarta (1), 28 são do setor financeiro.

Os maiores bancos brasileiros estão entre eles. Bradesco, Itaú BBA, BTG Pactual e Safra contribuíram com o jantar como em anos anteriores, assim como Santander, Citibank e a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), principal representante do setor.

Todos garantiram lugar nas mesas principais do evento, com acesso privilegiado ao presidente e a seus acompanhantes. Se os valores cobrados pela câmara em outros anos tiverem sido mantidos, cada um pagou US$ 26 mil (R$ 103 mil), mais do que o BB.

A Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos foi criada em 1969 como entidade sem fins lucrativos nos EUA. Ela não tem relação com a Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham), que funciona em São Paulo. 

Em anos recentes, foram homenageados em Nova York os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Bill Clinton, os ex-presidentes do Banco Central Henrique Meirelles e Armínio Fraga, hoje colunista da Folha, e o governador de São Paulo, João Doria.

A Petrobras esteve entre os patrocinadores do ano passado, quando foram homenageados o então juiz Sergio Moro, hoje ministro da Justiça no governo Bolsonaro, e o ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg. A estatal ficou fora desta vez, segundo as informações divulgadas até quarta.

Na Folha

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