segunda-feira, 20 de maio de 2019

Por que Bolsonaro não define o que é “nova política”?



O presidente Jair Bolsonaro poderia fazer um favor ao Brasil, à República, às ciências sociais e até a si mesmo e definir o que é essa tal "nova política". Afinal, o país que ele diz ser "ingovernável" só o seria porque a velha política o estaria impedindo de governar. Considerando que os inimigos listados naquele texto destrambelhado e golpista que ele endossou são o Congresso, o Supremo, o empresariado e até os militares, então é de se perguntar com quais elementos e setores se vai fazer a nova. A propósito: pergunte a qualquer pessoa de miolos — os tontos que ficam vociferando inconsistências nas redes sociais não servem — que projeto importante para o Brasil foi, até agora, barrado pelos outros dois Poderes da República. A resposta é uma só: nenhum! "E a reforma da Previdência?" Quem, até agora, não deu um miserável passo para aprová-la foi o próprio presidente. Ou me digam: ele se mostrou, alguma vez, realmente entusiasmado com o texto? A resposta, por óbvio, é "não".

Será que Marcelo Álvaro Antônio e Salles são nova política?

Os tuítes de Bolsonaro e de seus agitadores acusam conspirações em todo canto. Pois, então, que o presidente apresente os instrumentos e personagens na nova política, ora essa! Quando se conversa com Marcelo Álvaro Antônio, o enrolado ministro do Turismo, é de nova política que estamos falando? Ele representa esse marco inaugural de que o presidente se quer o grande anunciador? Por nova política se deve tomar Ricardo Salles, o titular do Meio Ambiente, que evidencia detestar a Pasta que está sob o seu comando, enxergando-a como um terreno a ser colonizado, com inimigos a ser vencidos, descartando-se, por princípio, o diálogo e o entendimento?

Flávio e Fabrício Queiroz são nova política, certo?

Talvez se deva tomar como métrica da nova política a atuação do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), que, até hoje, não conseguiu encontrar uma explicação ao menos verossímil para todas as, bem…, novidades que praticava em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio, tendo como operador um suposto motorista chamado Fabrício Queiroz. É aquele que disse em depoimento que, de fato, pegava uma parcela dos salários dos funcionários para contratar auxiliares de modo informal, pagando seus salários por fora — sem o conhecimento do chefe, claro! É esse um exemplo de nova política?

Ou nova política seria um presidente governar por decreto?

Vai que a nova política seja a disposição de um presidente de governar por decreto, fingindo ignorar que não pode mudar uma lei, votada pelo Congresso, por intermédio de um instrumento monocrático, do Executivo, que não se destina a esse fim. Ou não foi isso que ele fez com o mais recente decreto sobre o porte de armas, agindo como se o Congresso não existisse?


Nova política é ministro atacar manifestantes e deputados?

Ou seria expressão da "nova política" a atuação do ministro da Educação, Abraham Weintraub, que, incapaz de explicar de modo civilizado o contingenciamento de verbas para a área, prefere o cominho da truculência, da ofensa e do confronto? Convidado a falar na Câmara a respeito da decisão, deixou uma Casa ainda mais hostil do que a que encontrou à chegada, fazendo questão de atuar como um provocador barato. Foi à Câmara para ofender os parlamentares, sugerindo que nem sabem o que é uma carteira de trabalho — como se ele próprio, Weintraub fosse um exemplo a ser seguido.

Nova política é defender bomba atômica para conter a China?

Talvez ainda se possa tomar como exemplo de "nova política", em contraste com a velha, as declarações de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, a sugerir que o Brasil deveria ter armamento nuclear porque, assim, teria como fazer frente à China e, ora vejam, até mesmo à Venezuela. Ou, então, representam essa nova política as diatribes de Carlucho, que sai atirando a esmo, atingindo, em cem por cento das vezes, aliados e potenciais aliados do pai — os tiros contra a esquerda são irrelevantes porque estas, por óbvio, não têm como ajudar Bolsonaro a governar. Ora, então a nova política é o quê?

Nova política é só o nome fantasia de boçalidade autoritária

A nova política, na verdade, não é nada. Não passa de um conjunto de palavras de ordem e de slogans que se prestam a manter mobilizada a sua horda de sectários nas redes sociais. É um nome fantasia para a pregação do ódio às instituições e aos Poderes da República, que constitui o norte da atuação do presidente. A nova política, agora sim, virou só um chavão dos que não têm o que dizer, o que propor, o que fazer. Caso você, leitor amigo, tente fazer uma reconstituição para saber por que o presidente da República está praticamente rompido com quase todo o Congresso, não vai chegar a lugar nenhum porque ele também não sabe.

Nova política é coisa de tuiteiro ocioso, não de presidente

No fim das contas, a nova política se resume hoje a um grupo de destrambelhados, que anseiam governar o Brasil pelo Twitter e pelo Facebook. As redes sociais se transformaram na forma que tem o presidente de dialogar com os agentes políticos e com os demais Poderes da República. Você quer saber o que está, digamos, pensando Bolsonaro? É preciso ver o que ele andou tuitando e retuitando, os textos e vídeos que ele põe para circular, o nome do desafeto da hora, o que vai dizer naquelas suas "lives" sem pé nem cabeça… Assim ele pretende governar o país. E há, claro!, quem assegure que os culpados pelo caos em curso são aqueles que criticam a desordem.

Áulicos do Mito deveriam deixar redes e lhe arrumar agenda

A propósito: despontam na imprensa algumas vozes dispostas a se colocar como críticas dos críticos de Bolsonaro. Em primeiro lugar, deveriam fazê-lo de maneira remunerada — na hipótese de que já não o façam; nesse caso, isso teria de se tornar público. Em segundo lugar, não há por que perder o seu tempo criticando os críticos do governo. Talvez pudessem ter alguma utilidade descobrindo uma agenda para o presidente que conseguisse, como vou dizer?, se distanciar de morte, tiro, armas, conflitos, confrontos, ódios, conspirações, violência… Esses porta-vozes informais poderiam dizer por que aprovam a atuação do presidente da República em vez de secretar ainda mais rancor demonizando seus críticos. Bolsonaro não precisa de paranoicos de fora da família ou do grupelho que o cerca. Já os tem às pencas.

Nenhum comentário: