
Jair Bolsonaro não se conforma com as primeiras reações dos parlamentares à manifestação pró-governo. Irritou-se ao ler no noticiário que o comando da Câmara e os líderes do centrão não cogitam alterar o ritmo e a pauta do Legislativo em função dos atos de domingo. Considera o "desdém" do Legislativo um "absurdo." Em privado, o capitão chega a dedicar palavrões a certos personagens. Nas redes sociais, sem mencionar nomes, Bolsonaro expressou sua indignação.

No melhor estilo nunca antes na história desse país, Bolsonaro chama de "histórico" o apoio que recebeu das ruas. Não pode ser "ignorado", ele diz. Alvos da manifestação, os líderes do centrão respondem com ironia. A pauta do Congresso coincide e extrapola a agenda das ruas, eles afirmam. Além da mexida na Previdência e do aperfeiçoamento do pacote anticrime de Sergio Moro, já estão antecipando a reforma tributária.
Criou-se uma situação inusitada. Bolsonaro consolida-se como um presidente minoritário no Congresso. Político há três décadas, ele se recusa a fazer política. Mas, paradoxalmente, o cenário de catástrofe parece contribuir para o avanço das reformas. É como se as principais lideranças do Legislativo não quisessem dar ao presidente o gostinho de acusá-las de afundar de vez o país. Num instante em que o abismo parece ser um desejo secreto de nossos oligarcas, surge no fundo da tragédia a esperança de que a visão do caos absoluto produza alguma solução divina.
Por Josias de Souza
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