Por Anibal Tosetto
Infância infância era, sem lavar as mãos antes, catar e comer frutas no pé!
Infância e molecagens, era ficar de olho vivo e picar a mula quando o dono da chácara aparecia bufando e com um pedaço de pau ou taquara na mão. Ou capar o gato quando a nossa mãe, com o avental sujo de ovo, toda nervosa e com uma varinha de marmelo pronta para nos aplicar um corretivo, e tudo por causa da arte que tínhamos aprontado para aquela vizinha carrancuda e reclamona.
Século XX, anos 50, ainda era comum cercas de taquara na divisa entre os quintais das casas.
Quintais sem piso cerâmico ou cimentado. De chão de terra, galinheiro, horta e árvores frutíferas. Em muitos quintais, para o Rex, ou para a Duquesa, também a casinha de cachorro, ou um cantinho no ranchinho do tanque de lavar roupa. O gato? Ah!... no sofá da sala, ou perambulando pela vizinhança.
Galinheiro, nem que fosse apenas com uma galinha chocando meia dúzia de ovos, ou uma pata que não se importava com a falta do que seria hoje, em conformidade com novas necessidades criadas (e consumo...), de um "PPP" (Poleiro de Pato Privativo).
Horta, pelo menos um canteirinho de alface, ou couve. Também não podia faltar erva cidreira, ou erva doce, camomila, boldo.
Árvores frutíferas, nem que fosse apenas "meu pé de laranja lima", ou mexerica, pera ou baiana.
Mais supimpa ainda, se também tivesse pé de manga, ou abacate, carambola, jambolão, goiaba, amora, ou jabuticaba!
Século XXI, já passando da metade dos anos 10, onde estão os quintais de chão de terra,
as galinhas e patas, as árvores frutíferas?
E a infância infância, inocente, mas travessa por natureza?
Das molecagens que nos levavam a aprender sobre o ser humano e sua natureza?
E o melhor de tudo, trepar em árvores e se alimentar com os frutos da Natureza?
Pensando bem… um dia, os bem mais novos de hoje serão bem mais velhos e a Saudade os tocará e, só então, ouviríamos as suas respostas para essas existenciais questões! rsrsrs…
E, para ilustrar e concluir, um vídeo que editei, mostrando o netinho Lucas: “O primeiro pé de amora jamais se esquece”, no YouTube: http://youtu.be/LDjmtuYOAE4
PS: Nao é todo dia que acontece: ver um boitatá!
Infância, quintais, jabuticaba… lembrei de uma fato verídico, ocorrido nos anos 50. Eu devia estar com uns 5 anos de idade. Morávamos à Rua Cel. João Dias Guimarães, 205, Caçapava. Uma cerca de taquara fazia a divisa entre o quintal da nossa casa e o quintal da casa de Dona Morena, carinhosamente chamada de Vó Morena pelas crianças vizinhas.
Era uma noite de verão. Ao ver meu irmão Gijo, irmãs Maria e Marta saindo para o quintal, é lógico que fui atrás. De repente, vimos um fogaréu no quintal da casa da Dona Morena. Durou poucos instantes esse fogo de chamas claras. Com exceção do Gijo, o mais velho, ficamos assustados, pois aquilo seria um boitatá, pelo que deduzimos das histórias que nos contavam. Depois, o nosso pai explicou que naquele caso era um “fogo-fátuo”, uma combustão de gases emanados da fossa séptica no quintal da casa vizinha. Fizemos algumas perguntas e ouvimos mais algumas explicações: esse tipo de fogo também era comum acontecer nos pastos onde tivesse animais enterrados, etc.
Desse dia em diante, deixei de acreditar em boitatá, mas continuei por mais uns tempos acreditando em mula sem cabeça, corpo seco e saci pererê. Mas, à medida que fui aprendendo, além das escolas, com a realidade da vida e do mundo, nem cheguei acreditar nos partidos e políticos que aí estão, de colarinhos brancos e gravatas vermelhas ou azuis, chegados em um microfone, ou nos gabinetes dando canetadas, para enfrentar a árdua tarefa que é passar do Público para o Privado o excesso de arrecadação com os impostos & taxas, e lucros das Estatais – alias, lucros minguando cada vez mais... rsrsrs… (Na crise, ria e não chore. Se precisar, faça malabares nos semáforos).
Comentário meu: A Dona Morena citada aqui era minha Vó. Mãe da minha mãe!
3 comentários:
Se é para lembrar da infância, vou brincar também. Mas a minha foi passada em Paulínia e adivinhem que é o meu pai:
"A primeira casa onde morei também ficava numa esquina. Era de frente para uma creche que existe até hoje. O asfalto acabava ali mesmo. A duas quadras ficava um campinho de futebol rapado, que hoje é uma praça bem arborizada no Jardim dos Calegaris.
Eu tinha uns cinco anos de idade e de vez em quando ia para lá com meu irmão, de quase oito. Hoje seriam uns cinco minutos de caminhada, mas na época era uma epopeia. Eu era péssimo de bola. Não conseguia correr por causa da bronquite. Mas a garotada também soltava pipas e caçava passarinhos com estilingues de madeira. Era péssimo nisso também.
Um dia acharam uma cobra cega. A mataram e a colocaram num pote de vidro, que devia ser de picles, se não me engano. Lembro de ter sentido medo de ver aquela cobra. Diziam na época que também acharam por ali uma cobra com duas cabeças.
A fofoca correu rápido no bairro e nossa mãe veio nos chamar para ir embora. Como era difícil tirar a gente dali, o estímulo era que nosso pai tinha voltado mais cedo do trabalho e ia levar a gente para comer alguma coisa. E nós é que íamos escolher: pizza ou hambúrguer.
Nós escolhemos pizza, pois não havia pizzaria em Paulínia e teríamos que ir em Campinas, para passear perto do Castelo. Mas acho que nosso pai ficou com preguiça, ou estava cansado demais. Ele nos levou para comer hambúrguer no "Gatus" em Paulínia mesmo - onde hoje fica um hotel perto da Igreja Matriz, que ainda estava em construção.
Lembro do banho demorado naquele dia. Estávamos encardidos. O suor escorreu sobre o pó em nossas barrigas descobertas. Brincávamos só de shorts, descalços. Tínhamos pés bem cascudos.
Não sei o motivo de estar lembrando disso tudo hoje. Acho que é pelo fato de ter dado uma pequena bronca na minha filhinha, que não queria largar meu smartphone, por causa do jogo do gatinho que precisa comer toda hora e repete o que a gente fala.
Lamento por ela, que nunca saberá o que é comer um hambúrguer na varanda do "Gatus". Cada geração ficará com seu tipo de gato para lembrar...
Eu também tive um experiencia fantastica com um BOITATÁ.
Foi em 1950 quando eu tinha apenas 5 anos.
Estávamos no sótão da casa no sitio e eu coloquei uma lamparina
de querosene dentro de uma lata de 20 litros, e cobri com uma
escumadeira de aluminio (aquela toda cheia de furinhos).
Meus irmãozinhos e eu descemos do sótão era de tardinha.
Anoiteceu e minha mãe precisou da lamparina. Pediu para
meu irmão mais velho ir buscar lá no sótão.
Imagina a cena. O "Boitatá" projetava fogo de dentro da lata
para o forro, e além disso o latão de 20 litros vibrava com o
calor emanado da lamparina...
Caro Clovis Cunha,
Essa minha "crônica" que você publicou, e eu agradeço pela atenção, eu divulguei o link para um círculo de familiares e amigos.
Gostei de ler os comentários do meu filho Jean Tosetto e do meu amigo Ernesto Assini.
Recebi há pouco, um e-mail do tio da minha neta, um teólogo e jornalista que ao ler a crônica e comentários no Chacoalhando o Bambuzal, não resistiu e "confessou" as duas "molecagens", que copio a seguir. Conhecendo as pessoas e o "ambiente agrícola" citado, eu e minha esposa demos gargalhadas e chamamos a neta para ler, para "conhecer" esses seus tios, hoje sérios pastores e respeitados por suas ovelhas.
A cópia do e-mail:
Mais coisas de "santos"
- Sabendo que o vizinho abriria o açude de peixes na quinta da Semana Santa, fomos pescar nele na quarta.
- O pai arrendara um quarto de alqueire para um meieiro plantador de hortelã. No meio do hortelã produzia muito bem melancias. Qual foi a arte? Partimos a melancia sem tirá-la da rama, comemos o miolo, o irmão mais velho, que hoje atua como ministro de batina, cagou dentro e juntamos novamente as partes da melancia e saímos às gargalhadas.
- Encontramos uma bola de futebol da "gangue" rival em meio ao capim alto, a pintamos em vermelho, branco e azul e desafiamos o time deles numa partida. Olhavam desconfiados para aquela bola....
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