domingo, 20 de dezembro de 2015

Brasileiro começa a bocejar diante do impeachment, sinalizou o Datafolha



Dilma Rousseff de mãos dadas com o investigado Renan Calheiros dá sempre a impressão de uma senhora brincando no barro depois do banho. Michel Temer com o denunciado Eduardo Cunha a tiracolo transmite a imagem de um senhor que apertou o cinto por baixo do cós das calças, podendo perdê-las a qualquer momento. Uma oposição que passa meses negociando com o sujo a deposição da mal lavada revela um comportamento de alto risco, com clara tendência para a autodesmoralização. E a plateia, submetida a um simulacro de democracia, boceja. Em vez de passeatas, faz a sesta depois da macarronada de domingo. Sob protesto.

É contra esse pano de fundo que vêm à luz os dados da mais recente pesquisa Datafolha. Depois de atingir o ápice da impopularidade em agosto, com 71% de desaprovação, Dilma saboreia uma ligeira melhora na sua imagem. Continua no pântano, mas já consegue colocar o nariz para fora. Seu desempenho é considerado ruim ou péssimo por 65% dos brasileiros. A maioria (60%) ainda torce pela abertura de um processo de impeachment. Mas um percentual quase idêntico de brasileiros (58%) acha que o vice-presidente Michel Temer faria um governo igual ou pior do que o de Dilma.

O Congresso sairá em recesso —bocejo— ou os congressistas cancelarão suas férias? Alguém se importa? Haverá maioria para aprovar o impechment —bocejo—ou a presidente salvará o pescoço da guilhotina? O pior de viver numa democracia nivelada pela indecência é que o suspense perde a graça. E as pessoas perdem o interesse. Potencializa-se o efeito “farinha do mesmo saco”. Os políticos passam a ser vistos todos como se fossem uns a cara esculpida e escarrada dos outros. Importam-se apenas com os próprios interesses. E roubam, roubam.

A velha tese do Churchill segundo a qual a democracia é o pior regime imaginável com exceção de todos os outros, acabará ganhando uma versão brasileira: até um arremedo de democracia é preferível a todas as alternativas de ilicitocracia que costumam vigorar no Brasil. A política nacional parece empenhada em testar até onde pode ir no seu desprezo pela opinião pública. Aos poucos, o Brasil vai se tornando um país muito distante, uma democracia lá longe. Tratado como cão, o povo já não abana o rabo. Mas não sabe a quem deve morder primeiro. Na dúvida, boceja.

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