sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

É só nas ruas que mostraremos nosso pulso à escória


VALENTINA DE BOTAS

Ninguém precisa de ninguém até, claro, precisar. Para continuar a ser o que é, Dilma Rousseff precisa de vigaristas, de equivocados e de vigaristas equivocados que precisam dela e, sem um Eduardo Cunha para chamar de seu, passou a honrar o exercício grotesco do mandato com quem veio a calhar: um Renan do saco de gatunos do PMDB, crédulo na salvação dele e dela nessa novela torpe, tão arrastada que parece refundar o tempo.

É o governo na ilegalidade somando vigarices a equívocos e, depois de o lulopetismo estabelecer o Estado mafioso, os governistas erigem o presidente da Câmara o inimigo da nação como se a diferença entre ele e Renan não fosse apenas um Janot equivocado, na hipótese benigna. Entre as cenas da danação do país, a decisão do STF é um nu frontal dessa obra prima do atraso que pune o país com um final infeliz a cada aurora e crepúsculo sob um governo indiferente à nossa desgraça por ele tecida.

Com o confuso rito do equivocado – outra vez, na hipótese benevolente – ministro Barroso, o Supremo neutralizou a falácia de que o impeachment é golpe, mas também baniu o processo para o quase impossível, permitindo à presidente continuar pensando só naquilo: concluir o mandato, entontecida na mitologia pessoal de que resiste a pressões indizíveis. O que resta evidente é a resistência dela às leis e à democracia.

A biografia vergonhosa mostra alguém cuja tolerância à democracia é não mais do que concessão calculada. Entre a jovem que sonhava substituir uma ditadura por outra e a senhora que descobriu que, para sonho tão sombrio, a chave do cofrão público e uma metafísica mixuruca podem mais do que fuzis, a diferença é a consciência do país lasseada pelo combate à ditadura militar: tornou-se golpismo tudo o que limita, fiscaliza, rejeita ou critica um governo esquerdista.

Nutrida nessa porcaria de Zeitgeist e enredada nos mitos íntimos, a governante atoleimada se esbalda na vã glória de mandar levando teses arcaicas às últimas consequências: o desvirtuamento da democracia chancelado pelo STF e a ruína do país. Antes de consumar a obra nefasta, a súcia e a metafísica xexelenta do estatismo para camuflar o gangsterismo de Estado já estão banidos do futuro, pois semeiam a própria extinção enquanto devastam o país. Para 2015 terminar inacabado, faltaram a oposição inexistente e um STF são, mas também os milhões de indignados aprenderem que ninguém fará por nós o que só nós podemos fazer. Que não se trata de quem nos permitirá, mas se permitiremos que nos impeçam.

Não tem jeito, é só nas ruas que mostraremos nosso pulso à escória. A indignação ativa transbordando nossas atitudes de ousadia é direito irrenunciável que nenhum político bom nos dá e nenhum político escroque tira de nós; a saída entre a náusea e a apatia; a revogação do absurdo revelando com limpidez que Dilma, Renan ou Cunha não estão uns nas mãos dos outros ou do STF, mas nas nossas. E o melhor: nós também.

Nenhum comentário: