Dois mil e quinze vai entrar para a história como o “Ano Horrível que não Quer Acabar”. Que coisa impressionante! Nesta quarta, ainda haverá uma jornada e tanto. O Supremo decide (ou começa a decidir), com as esquerdas dos movimentos dos Com-Tetas-Estatais nas ruas, o rito do impeachment. Se Edson Fachin e os demais ministros tiverem juízo, deixam para o Legislativo o que ao Legislativo pertence — a menos que exista alguma ofensa à Constituição num rito que Eduardo Cunha (PMDB-RJ) não inventou.
E Cunha, claro!, voltou a ser a estrela, malgrado a sua vontade, desta terça. O dia raiou com a Polícia Federal em suas residências de Brasília e Rio. A PF escarafunchou seus celulares, tablets, computadores, tudo. Três aparelhos móveis foram apreendidos. A gravíssima confissão de José Carlos Bumlai, o amigão de Lula, segundo quem o dinheiro emprestado pelo Banco Schahin era mesmo para o PT, sendo parte enviada para Santo André — do caso Celso Daniel, lembram-se? —, virou nota de rodapé. Adiante.
O dia era daquele que a Operação Lava Jato classificou de o “Catilina” dos nossos tempos — numa leitura certamente errada de Catilina e de Cunha. Mas tudo bem: fica o simbolismo. O objetivo seria pegar o homem que também o PT diz que quer “destruir a República”. Pergunta rápida: a República não anda bem das pernas. Será culpa do Cunha? As esquerdas que vão às ruas nesta quarta dirão que sim. Segue o filme.
No Conselho de Ética, o processo contra Cunha andou. Votou-se a admissibilidade. Placar: 11 a 9 para dar sequência. Ora vejam: três dos votos contra Cunha pertencem a petistas. Lembram-se? Jaques Wagner e Lula queriam pô-los a serviço do presidente da Câmara. Em troca, este mandaria arquivar a denúncia contra Dilma. E placar do Conselho de Ética teria sido, nessa hipótese, 8 a 12, mas a favor de Cunha. Ele não esperou para ver. Pôs a denúncia para andar, sabendo que teria contra si os votos petistas.
O Conselho aquiesceu com o texto do novo relator, Marcos Rogério (PDT-RO). Mas há uma firula regimental. Os “cunhistas” acham que cabe pedido de vista; os anticunhistas dizem que não. Provavelmente, haverá recurso à Comissão de Constituição e Justiça. A novela Cunha se arrasta para 2016, como deve se arrastar o impeachment de Dilma.
É pouco provável que prosperem as manobras para suspender o recesso. A esta altura, agora que voltou a ser alvo, Renan Calheiros deve ter perdido aquele ímpeto já demonstrado para acelerar os trabalhos em nome dos altos interesses da pátria. Com o PMDB na berlinda, até o Planalto deveria avaliar com cuidado a estratégia: se Dilma tiver um mínimo de juízo, vai concluir que as incertezas aumentaram para seu lado, em vez de terem diminuído.
O Ano Horrível não quer acabar. Arrastará pendências para 2016, que já começará com a temperatura lá nas alturas. Nada tem solução fácil, é claro. Mas nada tem solução, nem fácil nem difícil, enquanto Dilma e Eduardo Cunha continuarem onde estão.
Este ano tem de acabar, sim. Mas só acaba no ano que vem.
Por Reinaldo Azevedo
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